Kandinsky poeta e teórico

9 Outubro 2018, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

OUTUBRO                                       3ª FEIRA                                           6ª Aula

 

9

 

 

 

1. Obra plástica, poética e cénica de Wassily Kandinsky

Fizemos a nossa abertura de aula lendo e procurando mergulhar num dos poemas de Kandinsky, da fase entre 1911 e 1913, intitulado VER. (Sehen).

Da interpretação que oferecemos ao poema constatámos que o seu universo mais visível se produz no contexto da prática pictórica. A personificação das cores e a sua movimentação no espaço abrem uma dinâmica expressiva na qualidade da linguagem, ela mesma simples, por vezes espirituosa, com uma estrutura tão surpreendente quanto é também a organização do espaço, do desenho físico perante o qual nos podemos espantar.

Salientamos o facto de o acto de ver requerer de nós a capacidade de podermos ser atraídos por uma multiplicidade de pontos de vista, muitas vezes contraditórios, e que despertam no leitor a capacidade de sobreporem em diferentes planos a plasticidade do poema e ao mesmo tempo convocarem a memória de visualização de quadros de Kandinsky.

Acresce dizer que o enriquecimento do poema em análise resulta da ênfase colocada pelo seu autor na sonoridade da linguagem, por vezes obtida através de repetições, e que oferecem ao poema uma tripla qualidade existencial como estrutura de suporte à cor, forma e sonoridade. Estes três elementos organizam-se de forma rápida (ao contrário do que é proposta para as Composições pictóricas) estabelecendo com a espacialidade próxima e com a Natureza uma relação de encantamento e inquietação que não exclui uma convocação geral do Universo através da explosão do mesmo como início de Vida.

 

Comentámos ainda o curto ensaio teórico de Kandinsky Sobre Composição para Palco (1912) o autor destaca o facto de a unidade interior de uma obra de arte (naturalmente em particular a das composições para palco) poderá derivar da dissemelhança exterior verificada entre os elementos constituintes de uma obra de arte total, também monumental, Esta perspectiva coloca Kandinsky em desacordo com Wagner, criticando nele a concentração quase exclusiva na partitura musical e não dando real valor às outras artes de palco: ballet e drama. Acrescentaríamos aqui o trabalho de corpo que Kandinsky quase ridiculariza no que diz respeito à ópera antes de Wagner, através de movimentos exageradamente expressivos e repetidos, codificados com determinadas emoções e que retiram a capacidade ao espectador de neles encontrar uma alma que possa vibrar:

«Antes de Wagner, por exemplo, o movimento tinha apenas um sentido puramente exterior e superficial na ópera (talvez apenas degeneração). Ele era um apêndice ingénuo da ópera: as-mãos-no- peito - o amor, o-levantar-dos-braços - a oração, o-agitar-dos- braços-no-ar - emoções fortes, e por aí fora. Essas formas infantis (que ainda hoje podem ser vistas todas as noites) estavam relacionadas exteriormente com o texto da ópera, que continuava a ser ilustrado pela música. (dactiloscrito, p. 80).

Apesar de nem sempre Kandinsky ser favorável à teoria e metodologia wagnerianas, verificamos que o seu conhecimento da obra do músico alemão era detalhado.

Tem sido apontado a Kandinsky que a teorização escrita para as Composições para Palco se inspira em grande parte em outra produção ensaística como Sobre a Questão da Forma e Do Espiritual na Arte, obras deste período entre 1910-1912.

Uma questão para nós é importante: Kandinsky pensava e escrevia visualmente. Kandinsky possuía um elevado grau de espiritualidade em relação ao mundo. Kandinsky pensava e escrevia poeticamente e determinados sons intrigavam-no quando procurava correspondências entre a sua língua materna, o russo, e o alemão. Isto não acontecia apenas nos poemas, mas também em textos ensaísticos.

 

Poderemos considerar que o primeiro ponto do nosso programa irá agora repousar no vosso colo sempre pronto para novos despertares.

O ensaio Sobre a síntese abstracta para palco (1923) não terá acompanhamento específico em aula, o que não quer dizer que a haver perguntas elas nos possam interceptar.

Disponibilizo todas as minhas traduções (Composições para Palco e Poemas de Kandinsky) se disso houver da vossa parte vontade.

 

 

2. A Sagração da Primavera (1910-1911) de Igor Stravinsky – Quadros da Rússia pagã em duas partes

 

Deixei-vos no final da aula com sonoridades stravinskyanas. A intenção era apenas criar uma atmosfera propícia para o 2º ponto do programa. Talvez não tenha sido uma boa ideia. O intervalo é o intervalo.