Processo de criação em Wassily Kandinsky

25 Setembro 2018, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

            

SETEMBRO                         3ª FEIRA                               3ª Aula

 

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1. Obra plástica, poética e cénica de Wassily Kandinsky

 

Interessou-nos desta vez abrir a reflexão sobre obra plástica de Kandinsky, comentando e sistematizando o percurso e a interligação propostos pelo artista em torno de três conceitos: Impressão, Improvisação e Composição.

É na sua obra Do Espiritual na Arte (Über das Geistige in der Kunst, 1912) que pela primeira vez Kandinsky formula o que o motiva na compreensão possível entre Natureza, música e pintura. Afirma o artista: «Cada composição musical possui um ritmo próprio; tal como na pintura, também na natureza podemos descobrir um ritmo na ordem aparentemente fortuita das coisas. Mas na natureza este ritmo está longe de ser aparente, já que as intenções da natureza (em certos casos e, sobretudo, nos mais importantes) permanecem ocultas.» (Kandinsky, EA, 1991: 133)

Podemos considerar esta citação de dois pontos de vista: o primeiro diz respeito à clara interligação entre os dois campos artísticos e a Natureza (a utilização de maiúscula pretende salientar o universo que tudo inspira e que tivemos oportunidade de comprovar com o nosso exercício com conchas e búzios); o segundo aspecto salienta a noção de ritmo, também comum aos três campos, ainda que diversificado em cada objecto ou obra.

Atribui Kandinsky às artes pictóricas uma linguagem própria da música, quando menciona dois tipos de obras de arte: as melódicas e as sinfónicas, assim designadas respectivamente pela sua simplicidade e complexidade. As primeiras serão, na sua composição, claras e simples, como uma melodia que se trauteia de modo espontâneo; as segundas pressupõem uma subordinação a uma combinatória em que um tema ou uma forma principal agrega outros ou outras em torno de si. Aqui se exprime a qualidade sinfónica, mais complexa e elaborada, quer da composição musical, quer da composição pictórica.

Este quadro de questões leva-nos então àquilo que em Kandinsky se nos apresenta do mais simples para o mais elaborado e do exterior para o interior. Ao designar as suas obras atribuindo-lhes a categoria de subgéneros que se inspiram na relação directa do criador com a estimulação própria para a criação – impressões, improvisações, composições -, o artista incorpora em si a experiência real como fonte de inspiração (do exterior para o interior), podendo, no entanto, optar por movimento contrário (do interior para o exterior), associando na sua expressão diferentes ritmos conformes à liberdade de criação.

Assim, teremos três tipos de obras, segundo a sua perspectiva:

«1. Impressão directa da «Natureza Exterior» por uma forma desenhada e pintada. A esses quadros dei o nome de Impressões.

2. Expressões inconscientes na sua grande parte, e geralmente súbitas, de processos de carácter interno e, portanto, impressões de «Natureza Interior». A estes quadros chamo Improvisações.

 3. Expressões formadas de modo idêntico, mas que são elaboradas lentamente, foram reprimidas, examinadas e longamente trabalhadas, a partir dos primeiros esboços, de um modo quase pedante. Dou-lhes o nome de Composições.» (Kandinsky, EA, 1991: 123.)

 

Ocupar-nos-emos na próxima aula de observação de exemplos seleccionados pelos alunos de obra plástica do pintor russo. Tentaremos perceber, se possível, como se processa a adequação da formulação ordenada do seu pensamento sobre este tipo de obras perante a contemplação de reprodução das suas pinturas. É, no entanto, importante que nos libertemos do seu discurso e não queiramos encontrar resposta para tudo o que viermos a observar. Como o próprio afirma: «O que importa não é o cálculo, mas sim a intuição.» (Kandinsky, EA, 1991: 123.)

 

Talvez possamos ver um vídeo (um pouco acelerado para meu gosto) mas que cobre grande parte da obra plástica de Kandinsky.

 

Será em breve objecto de estudo o programa-livro do espectáculo Noite e Som Amarelo 2003, Lisboa, CCB. Desta obra serão aconselhados alguns curtos textos, nomeadamente, o ensaio do Prof. José Justo que referimos em aula.

 

Esta preparação prévia destina-se a integrar o estudo de algumas Composições para Palco concebidas por Kandinsky entre 1909 e 1928.

 

Leituras recomendadas:

KANDINSKY, Wassily 1991, Do Espiritual na Arte, Prefácio e nota bibliográfica de António Rodrigues, Tradução de Maria Helena de Freitas, Lisboa: Publicações Dom Quixote.

KANDINSKY, Wassily 1998, Sobre a Questão da Forma, Da Compreensão da Arte, A Pintura como Arte Pura, Conferência de Colónia in: Gramática da Criação, Lisboa: Edições 70. Apenas o primeiro ensaio é fundamental. Os restantes serão escolha de leitura dos alunos.