A estátua e os corpos moventes

24 Novembro 2016, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

Recebemos hoje o nosso convidado Mário Afonso, bailarino, coreógrafo e professor, que nos pôs em contacto com o trabalho artístico de Dimitris Papaioannou, bailarino e coreógrafo grego, através do vídeo Primal Matter (Festival de Atenas de 2013), numa versão curta do espectáculo então apresentado.

 

Mário Afonso chegou inesperadamente tarde (meia hora a menos do previsto) devido a suspeita de bomba na cidade. Mesmo assim tivemos oportunidade de escutar a leitura de um texto seu sobre dança, que contextualizava não só o material que iríamos ver mas sobretudo a perspectiva em que se insere o trabalho de Papaioannou na actual situação político-económica e artística da Grécia.

Primal Matter equaciona a relação sempre presente do passado clássico grego, das suas estátuas iconográficas como Kouros (o rapaz), cuja visualização se projecta no trabalho entre os dois bailarinos em cena. O próprio coreógrafo, que representa a formalização civilizacional no berço grego e na sua cultura, extensível a toda a Europa, faz do seu fato preto a imagem de um corpo que age para dominar, moldar, articular, não sem que exista o permanente desejo fusicional de recuperar em si o Outro, o que esse Outro foi em tempos, como fixação da beleza física e da harmonia das formas. A referência plástica traz à coreografia o seu eixo essencial como expressão de movimento e suspensão nas imagens que proporcionam, entre outras coisas, também, a leitura do espaço como o de um ateliê, onde artista e matéria-prima se debatem, conflituam e entendem. É neste contexto que ganha sentido a presença do Kouros desnudo, no desempenho do bailarino Michalis Theophanous. Ele é o agente transposicional de memória, a matéria que traduz essa memória e que a actualiza no presente da dança.

 

Vídeo visualizado:

https://vimeo.com/190056876