O pano e a pele

6 Dezembro 2016, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

SAÍDA CÁ DENTRO

Esteve hoje connosco a artista plástica e estudiosa de têxteis para as artes performativas Ângela Orbay.

A nossa convidada procurou sensibilizar os alunos para a pertinência dos materiais e suas características próprias que vestem actores e bailarinos não na base da construção do figurino mas antes na leitura que nos podem possibilitar as texturas, os fios, uma trama, uma extensão de tecido.

Importante parece ser para esta designer têxtil a relação que se estabelece entre um corpo e a sua energia específica e o corpo do tecido que sobre o corpo humano exerce influência como força de embate, como lisura, como protecção, mas sobretudo como energia participante no movimento de quem o veste ou despe.

Recuperando as palavras de Ângela Orbay: O Pano, termo mais comum, tem sido incluído por vários coreógrafos nas suas criações, tirando proveito das suas propriedades físicas para produção e criação de movimento. Não só movimento mecânico/físico, mas movimento capaz de expressar em qualidade coreográfica o Corpo-Mente/Corpo-Emoção/Corpo-Razão/Corpo-Não-Corpo.

A nossa convidada focou a sua atenção em coreografias de Sasha Waltz por nós estudadas ao longo de semanas, salientando diversos aspectos que com elas se relacionavam. Seguindo as suas notas podemos recuperar algumas partes do seu discurso.

Em Körper:

– A pele como tecido que cobre a carne e estrutura o corpo (interior e exterior)

- Os tecidos que constroem o vestuário e que possuem diferentes estruturas e densidades

- Os tecidos de alfaiataria, camisaria e outros sectores do vestuário, tecidos aéreos leves, transparentes como organzas e gazes, malhas de renda, tecidos com superfícies lisas ou com padrões e cor. Dão poder à apoteose, incluem-se em muitos momentos da narrativa coreográfica.

Em noBody:

- Despir, despir por camadas, dar a engolir com uma crueldade cuidadosa que estuda entusiasticamente a capacidade e o limite do outro a entupir-se, observando a crescente agonia e estado de impotência.

- Motricidade de 2 corpos em jogo com as peças de vestuário. São malhas de algodão com propriedades elásticas, usadas em sportswear, que permitem as deformações, a resiliência do algodão, como referido no exemplo de Marta Graham em Lamentation, permitiu que essa pele aumentasse ou diminuísse. A resiliência de um tecido é precisamente essa capacidade de ir e voltar à forma natural, depois da “luta” e “combate” que causaram “deformação” A fibra volta à sua forma inicial. O “papel” activo do têxtil é evidente. Ele trabalha muito neste conflito.