Arte Outsider e Psicologia da Arte.

2 Fevereiro 2021, 14:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

A Loucura na Arte e a descoberta do mundo Interior: tópicos.

        Em 1974, António Reis realiza o filme Jaime, apoiado pelo Centro Português de Cinema. Jaime Fernandes, falecido em 1969, nasceu em Barco (Beira Baixo). Trabalhador rural, aos 38 anos foi internado por três décadas no Hospital Miguel Bombarda, como esquizofrénico-paranóico. Como pintor e desenhador, impôs-se: bastaram cinco anos para considerarem o camponês um génio em artes plásticas  Dois anos após a morte de Jaime, António Reis descobriu um desenho seu num gabinete clínico do Hospital e partiu à investigação., reunindo mais cem desenhos do autor e retratando a sua existência. 

         A obra fundamental, e pioneira, foi:  Artistry of the Mentally Ill: A Contribution to the Psychology and Psychopathology of Configuration, 1922, de Hans Prinzhorn (ed. Eric Von Brockdorff (trad.), 1972). A colecção Peinzhorn de arte de artistas alienados mentais em Heidelberg e a repressão nazi. Em 1920 Prinzhorn (1866-1936) reúne na Clínica Psiquiátrica de Heidelberg 5. 000 peças de doentes mentais provenientes de asilos de vários pontos da Europa. Em 1922  escreve a sua obra mais conhecida Artistery of the Mentally Ill onde analisa o trabalho de dez doentes psiquiátricos (the schizophrenic masters) seleccionados a partir da colecção de Heidelberg. A Colecção Prinzhorn: August Natterer, Franz Pohl, Heinrich Anton Müller...

         A onda iconoclástica da Arte degenerada (entartete Kunst, termo utilizado pelo regime nazi para atacar a Arte Moderna, banida por ser não-germânica judia-bolchevique. Os artistas foram reprimidos e muitas obras destruídas. Arte Degenerada foi o título da exposição de Munique, de 1937, atacando as obras modernistas e destinada a inflamar a opinião pública alemã. Enquanto os estilos modernos de arte eram proibidos, expostos e destruídos, assim como as artes as minorias, dos doentes mentais, etc, do os nazis promoviam pinturas e esculturas de estilo formal, académico e pró-III Reich, nas quais se exaltava a pureza racial e a obediência, a xenofobia e o ódio anti-judaico.  

         O Palácio Ideal de Ferdinand Cheval (1936-1924) em Hauterives (Drôme): Um sonho esculpido em pedra (c. 1890-1922). O impacto na Modernidade: André Breton, a visita ao Palácio Ideal e o Manifesto Surrealista. A influência em Max Ernst e Picasso. A descoberta do mundo interior A interiorização do olhar e A diluição das fronteiras entre o interior e o exterior, entre o espaço pictórico e o espaço real. Momentos significativos do encontro entre psicologia e reflexão sobre arte. A noção de inconsciente em Jung e Freud. O inconsciente individual e colectivo. (exs: 1910: Sigmund Freud, Uma Recordação de Infância de Leonardo da Vinci; 1914: Sigmund Freud, O Moisés de Michelangelo; 1932: Carl Gustave Jung, «Picasso» in O Espírito na Arte e na Ciência).

         O pintor Jean Dubuffet e a grande Collection d’Art Brut criada em 1945, onde reúne um dos acervos mais significativos de arte realizada em contexto psiquiátrico.Dubuffet definiu nos seguintes termos o conceito de Arte Brut Nous entendons par-là des ouvrages exécutés par personnes indemnes de culture artistique […] Nous y assistons  à l’opération artistique toute pure, brute, réinventée dans l’entier de toutes ses phases par son auteur, à partir seulement de ses propres impulsions. De l’art donc où se manifeste la seule fonction de l’invention […].» (L’homme du commun à l’ouvrage, 1973). A obra de Adolf Wölfi, de Aloïse Corbaz, de Carlo Zinelli.

        A psiquiatra Nise da Silveira, com sua formação junguiana, cria em 1949 um atelier de arte na Secção de Terapia Ocupacional do Hospital Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro, e em 1951 funda o Museu das Imagens do Inconsciente onde expõe as obras dos seus pacientes.

        O Museu o Hospital Miguel Bombarda: a obra de Jaime Fernandes e a Arte Outsider, termo que veio a impôr-se e é hoje o mais consensual para definir a produção artística destes artistas «sem escola».  Uma palavra, enfim, para Van Gogh e para Jackson Pollock, viagens ao inconsciente.