Definições de arte: questõesw teóricas permanentes.

15 Fevereiro 2017, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

O programa da disciplina estrutura-se, com naturalidade, por estes e outros pontos de análise, propondo uma reflexão sobre os modos de ver a arte e de problematizar tanto o acto criativo como a sua plena fruição.

Arte é a actividade humana ligada a manifestações de ordem estética, produzida por artistas a partir de percepção, de emoções e ideias, com objectivo de estimular esse interesse de consciência em um ou mais espectadores. Cada obra de arte possui um significado único e diferente. A arte está ligada à estética porque é considerada uma faculdade ou acto pelo qual, trabalhando uma matéria, imagem ou som, o homem cria beleza ao esforçar-se por dar expressão ao mundo material ou imaterial que o inspira. Na história da Filosofia tentou-se definir a arte como intuição, expressão, projecção, sublimação, evasão: Aristóteles definiu-a como uma imitação da realidade, mas Bergson e Proust vêem-na como a exacerbação da condição atípica inerente à realidade. Kant considera que a arte é uma manifestação que produz uma "satisfação desinteressada".

O que define o território artístico ? •Acto vivo •Gesto único e irrepetível •Dimensão trans-contextual •Carga estética •Inesgotabilidade de afectos •Dimensão trans-contemporânea •Comprometimento ideológico •Equilíbrio entre fragilidade física e poder •Trans-memória •Capacidade de atingir fascínio absoluto •


PROGRAMA

1. A História da Arte e a globalização: eppure si muove…

1.2. Consciência da trans-contemporaneidade das artes.

1.2. Perspectivas antigas, discursos novos.

1.3. Fortuna crítica da globalização.

1.4. O consumismo e o discurso das artes.

1.5. Globalização e progresso.

1.6. Investigar com arte, hoje.

1.7. História e Crítica da Arte, um destino comum.

2. A Iconologia como proposta metodológica.

2.1. História das imagens e das ideias expressas pelas imagens, ou a alternativa às correntes positivistas, deterministas e formalistas.

2.2. Antecedentes da Iconologia: desde Jacob Burckhard a Aby Warburg (1866-1929), a Fritz Saxl (1890-1948), a Erwin Panofsky (1892-1968) e à criação do Warburg Institute.

2.3. O desenvolvimento do método : a obra monumental de Erwin Panofsky e suas relações com a Filosofia, a Semiótica, a Psicanálise, a Antropologia e outras ciências.

3. A Teoria da Arte na Antiguidade Clássica ao surgimento do cristianismo.

3.1. Imagem mitológica e fontes literárias: breve noção. Ovídio e as Metamorfoses.

3.2. As divindades e os heróis: uma visão de conjunto.

3.3. Simbologia do número; secção áurea e harmonia musical. Pitagorismo e neo-platonismo.

3.4 As primeiras imagens cristãs. O signo, o sinal, a imagem descritiva.

3.5. Arte funerária e influências pagãs. A cosmologia e o panegírico nas artes.

3.6. Estética e Mundo Medieval: origens orientais da Iconografia, a partir dos formulários egípcios, bizantinos, helenísticos e sírios.

3.7. Temas e narrações: Bíblia, Apócrifos, Santos. Bestiários. Calendários, zodíaco; artes liberais (trivium, quadrivium); Psicomaquias; Vícios e Virtudes; Cahier de Villard d’Honnecourt; a Lenda Áurea de Tiago de Voragine; Santo Agostinho (De Doctrina Christiana) e o Pseudo-Dionísio. O nominalismo (Ockam). A iconografia da Virgem. As Meditações da Vida de Cristo do Pseudo Boaventura.

4. A época moderna: o desenvolvimento da Teoria da Arte.

41. A secularização da imagem e a utilização de correspondências de imagens pagãs. A ideologia neoplatónica. Revitalização dos programas astrológicos. -- A Emblemata de Alciato, a Iconologia de Cesare Ripa e as obras de Horapollo, Francesco Colonna, Pietro Valeriano e Otto Vaenius.

4.2. O movimento neoplatónico florentino: o pensamento de Marsilio Ficino, as obras de Sandro Botticelli, Miguel Ângelo, Baccio Bandinelli, Ticiano.

4.3. Velhos e novos temas: Pai Tempo; Cupido Cego; Quatro Elementos; as Quatro Partes do Mundo; Estações e Meses; o Panteão dos Deuses Clássicos; a simbologia das Flores e Frutos; Amor Divino e Fortuna; Hieroglifos; Grotescos; Empresas e Divisas; Idades do Homem; Virtudes; Musas.

4.4. Pintura portuguesa dos séculos XVI e XVII: programas narrativos e ciclos de significação múltipla. O bodegón e o retrato.

4.5. A Igreja Católica contra a iconoclastia protestante: o decorum. Renovação iconográfica no Concílio de Trento; propaganda catequética e imagem sagrada. Santos e modelos (mártires, místicos, ascetas).

4.6. Programas das ordens religiosas. Discurso imagético e “espaço total” do Barroco.

4.7. Arte para crer ? Ver para crer ? Ou crer na arte ??? 

5. A época contemporânea: novas visões, novas globalizações.

5.1. A visão iconológica e a arte na Revolução francesa (Les barricades de Delacroix).

5.2. A visão iconológica face à «arte degenerada» e à «arte de resistência» (a propósito da produção artística hitleriana, mussoliniana, estalinista, franquista e salazarista).

5.3. O conceito de História da Arte total e como parte integrante de uma interpretação globalizante das obras de arte particulares.

5. 4. A era da reprodutibilidade das artes: Walter Benjamin.

5.5. A visão iconológica e a produção das ‘novas vanguardas’ da segunda metade do século XX (Hobsbawm, o contributo do marxismo e o debate em torno da ‘morte das vanguardas’).

5.6. Iconoclasma e iconofilia: o poder imenso e a fragilidade absoluta da obra artística.

5.7. Tipologias do iconoclasma.

6. Conclusões.

6.1. De Ripa-Baudoin à Ciência das Imagens de Warburg e Panofsky.

6.2. A História da Arte total. Sentido e limites da abordagem iconológica.

6.3. A Iconologia face às suas múltiplas abordagens (sociológica, marxista, filosófica, psicanalítica, semiótica). A dimensão cripto-artística.

6.5. De Arthur Belting à Nova Iconologia: novas problematizações.

6.6 Teoria da trans-contemporaneidade das artes.


TESTE: 15 de Maio.

TRABALHO PRÁTICO: texto crítico sobre um texto, um autor ou uma problemática teórica relacionada com a História e Crítica da Arte, a ser entregue até ao final do Semestre (em final de Maio, no limite) e a apresentar oralmente (em início de Junho) numa aula suplementar de avaliação e discussão.