História da Arte, ARTWORLD e Globalização.

22 Maio 2017, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Discussão em torno do conceito dsantiano de ARTWORLD e o papel da Teoria da Arte no rejuvenescimento da prática histórico-crítica das artes tal como hoje pode ser praticada. História da Arte e globalização: eppure si muove… Consciência da trans-contemporaneidade das artes. Perspectivas antigas, discursos novos. Fortuna crítica da globalização. O consumismo e o discurso das artes. Globalização e progresso. Investigar com arte, hoje, em Portugal: situação da História das investigações em Arte. História e Crítica da Arte, um destino comum. O conceito de História da Arte total e como parte integrante de uma interpretação globalizante das obras de arte particulares. Iconoclasma e iconofilia: o poder imenso e a fragilidade absoluta da imagem artística. A Iconologia como disciplina humanística: «casos de estudo». Problemas de ordem metodológica, teórica e prática, e ética, na definição do pensamento iconológico. O livro de Arthur C. Danto, The Madonna of the Future. Essays in a Pluralistic ArtWorld, e o futuro da História da Arte como grande disciplina humanística.No artigo “The Artworld”, publicado em 1964, o filósofo norte-americano Arthur C. Danto faz a identificação filosófica de um campo expansivo, a que denomina “mundo da arte” [artworld], formado por teorias artísticas e pela história da arte, cujo conhecimento se caracteriza como necessário para que possamos constituir algo como arte: “Ver alguma coisa como arte exige algo que o olho não pode perceber – uma atmosfera de teoria artística, um conhecimento da história da arte: um mundo da arte” (DANTO, 1964, p. 580). A operação retira o peso da percepção na recepção das obras de arte: ao afastar a ênfase sobre as propriedades manifestas e descontextualizadas, em favor de seu caráter cognitivo, ressalta os aspectos não-manifestos e dependentes do contexto histórico-social como decisivos para a aceitação de determinados objetos como obras de arte. A abordagem filosófica proposta por Danto, entretanto, dará origem, nos anos que se seguem, a um número de teorias que ficariam conhecidas como as “teorias institucionais da arte”. A mais célebre delas foi desenvolvida a partir de 1969 pelo filósofo norte-americano George Dickie. Em “Defining Art”, Dickie apresentava os elementos do que viria a ser a Teoria Institucional da Arte e o que acredita ser a explicitação do conteúdo da tese original de Danto. Para Dickie, o que “o olho não pode perceber” é uma complicada característica não manifesta dos artefatos em questão.Ser arte, para Danto, depende de um conjunto de razões que constitui uma dada coisa como tal. Nada pode ser arte fora dessa fundamentação: “Deve ser feita uma distinção entre ter razões para crer que algo seja uma obra de arte e algo que se constitua como uma obra de arte de modo contingente às razões para que o seja”. Um inspetor da Alfândega, no exemplo oferecido por Danto, pode realmente usar o facto de que o diretor de um museu nacional disse que uma coisa é arte para crer que ela o seja, simplesmente pela posição ocupada nas estruturas de especialização, mas, para Danto, “a sua declaração de que aquela obra é arte não é razão para que ela o seja”:“ser uma obra de arte é dependente de um conjunto de razões e nada pode ser obra de arte fora do sistema de razões que lhe deu esse estatuto” . Este sistema de razões, ou discurso de razões, é a substância do seu mundo da arte. É um sistema fundado em causas que se referem ao momento artístico-histórico em que a obra surge face às demais obras já produzidas e das teorias artísticas delas inseparáveis e é esse sistema que institui determinado objecto como arte. Assim, o mundo da arte é o “discurso de razões institucionalizado”, o sistema que articula obras e teorias artísticas, estruturado em carácter da relativa permanência e identificável por suas práticas. A estrutura de justificação proposta, e que singulariza sua teoria em relação à Teoria Institucional de George Dickie, consiste numa cadeia de regressão a crenças básicas, fundadas no campo da história e das teorias que as próprias obras veiculam. 

Conceito fundador, "The Artworld" é ainda razão de discussões volvido meio século. É notável como continua forte a metáfora do título. Danto disse que o conceito de ARTWORTLD não define um mundo de pessoas e instituições mas sim uma comunidade de ‘artworks’, envolvidos em algo, nem que seja no diálogo conjunto sobre assuntos de arte, ainda que sejam os mais díspares e nele se encontrem também, inevitavelmente, os detractores de pastrimónio, os especuladores, os ladrões de arte, os falsários, os iconoclastas e o que há de mais avesso a um mundo artístico com ética... No livro, Danto desenvolve essa tese, aduzindo à História da Arte o conceito de lógica conversacional ("implicature") e, assim sendo, «a work like Brillo Box can be said to constitute a logical next step in the ‘conversation’ of mid-twentieth century art, but only someone following along with the conversation could hear that -- and thereby see Brillo Box as art». A analogia entre esse mundo comunitário de trabalhadores de arte e o muindo social, e da política, cria um vínculo igualmente relevante.