Comentário geral ao programa e aos objectivos da disciplina.

13 Fevereiro 2017, 08:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

 

      Objectivos gerais:

      O programa desta cadeira de Teoria da História da Arte visa definir os conceitos, fundamentos, objectivos maiores e também os limites da História da Arte como ramo científico da Ciência das Humanidades. Daí a necessidade de se estruturar a sua base de teorização dos fenómenos criativos e de recepção -- tanto de criação, como de re-criação e de fruição. Mas nem por isso o programa não deixará de ser prático – i. e., convocando constantemente, perante os alunos, os artistas e as obras, propostas em globalidade de visões para nosso deleite e reflexão plural.

     Dá-se enfoque ao campo da Teoria das Artes, e dentro dela ao campo da Iconografia e da Iconologia como instrumentos operativos de base no âmbito da ciência histórico-artística, narrando o modo como foi posta em prática desde as experiências de Aby Warburg e Erwin Panofsky, passando por E. H. Gombrich, Meyer Schapiro, Gertrud Bing, Frances Yates, Michael Baxandall, David Freedberg, Didi-Huberman, Daniel Arasse, etc, até à Sociologia da Arte de Pierre Francastel e dos marxistas como Theodor Adorno, Frédéric Antal e Nicos Hadjinicolaou, à tradição mais recente de estudos iconológicos de Hans Belting, e outros autores, sem se esquecer Umberto Eco ou Arthur C. Danto, entre outros, para se reflectir sobre a operacionalidade do pensamento iconológico na análise de obras de arte.

     Estudam-se neste programa a essência e transcendências da imagem artística (as obras de arte), o mercado da arte, e os tipos comportamentais das obras de arte – tanto trans-contextuais como trans-memoriaise trans-contemporâneas -- incluindo a análise de fenómenos de repulsa e de fascínio – iconofilia, iconoclastia --, recorrendo a exemplos antigos, medievais, modernos e contemporâneos. Aborda-se, ainda, a Teoria da Arquitectura, e a prática da História da Arte à luz das suas bases de teorização, com enfoque nas correntes positivistas e formalistas, na Micro-História da Arte, na História Social da Arte e na contribuição do Marxismo, na Semiótica, no Feminismo e estudos de Género, os Estudos Pós-Coloniais, e na História da Arte Total, com as suas visões mais ou menos globalizantes.

     Um balanço necessário sobre o uso das novas metodologias pluri-disciplinares no campo da investigação em História da Arte como ciência, sem perder nunca a conceptualização analítico-descritiva e crítica dos fenómenos do mundo da criação que envolvem o facto artístico, segue, com naturalidade, os pontos de análise propostos em programa.


BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL

 

ADORNO, Theodor, Teoria Estética, Lisboa, Edições 70, 1970.

ARASSE, Daniel ARASSE, On n’y voit rien, Paris, Denoel, 2000.

ARGAN, Giulio-Carlo, Immagine e persuasione, Milão 1986; trad. Arte e Crítica de Arte, Estampa, 1995.

BAPTISTA PEREIRA, Fernando António, Imagens e Histórias de Devoção. Espaço, Tempo e Narrativa na Pintura Portuguesa do Renascimento (1450 – 1550), Faculdade de Belas Artes, Lisboa, 2001.

Hans BELTING, Likeness and Presence: a history of the image before the era of art (trad. Brasileira: Semelhança e Presença. A história da imagem antes da era da arte, Ars Urbe, Rio de Janeiro, 2010).

BENJAMIN, Walter, «A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica», publicado na revista do Institute for Social Research, de 1936 (trad. port.: Walter Benjamin, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, introd. de T. W. Adorno, ed. Relógio de Água, Lisboa, 1992).

BESANÇON, Alain, L’image interdite. Une histoire intellectuelle de l’iconoclasme, Arthème Fayard, 1994.

BELTING, Hans, The Global Art World. A Critical Estimate, ed. com Andrea Buddensieg, Ostfildern 2009.

BOLVIG, Axel e Ph. Lindley (coord.), History and Images. Towards a New Iconology, Turnhout, 2003.

BRYSON, Norman, Vision and Painting. The logic of the Gaze, Yale University Press, 1983 (ed. espanhola Visión y Pintura. La lógica de la mirada, Madrid, Alianza,1991).

CALABRESE, Omar, Como ler uma obra de arte, trad. port., Ed. 70, Lisboa, 1999.

CASSIDY, Brendan (coord.), Iconography at the Crossroads, Princeton University, 1993;

CASTIÑEIRAS GONZÁLEZ, Manuel, Introducción al Método Iconográfico, ed. Ariel, Barcelona, 1998.

CIERI VIA, Claudia, Nei dettagli nascosto. Per una storia del pensiero iconologico, Carocci, Roma,1994.

CURTO, Diogo Ramada (coord.), Estudos sobre a Globalização, Edições 70, Lisboa, 2016.

DANTO, Arthur C., After the End of Art. Contemporary art and the Pale of History, Philadelphia, 1987.

DESWARTE, Sylvie, Ideias e Imagens em Portugal na Época dos Descobrimentos. Francisco de Holanda e a Teoria da Arte, Lisboa, Difel, 1992.

Idem (coord.), À travers l'image. Lecture iconographique et sens de l'oeuvre, Actes du Séminaire CNRS Histoire de l'art et iconographie, dir. Catherine Monbeig-Goguel, Paris, éd. Klincksiek, 1994.

Idem, «Antiguidade e Novos Mundos», in Ideias e Imagens em Portugal na época dos Descobrimentos, Lisboa, Difel, 1992.

DIAS, Pedro, Portugal e Ceilão: baluartes, marfim e pedraria, ed. Santander Totta, Lisboa, 2006.

DICKIE, Georges, Introduction to Aesthetics. An Analytic Approach, New York, 1997 (trad. de Rolando Almeida, El circulo del arte, una teoria del arte, Paidos, Barcelona, 2005).

DIDI-HUBERMAN, Georges, L’Image Survivante. Histoire de l’art et temps des fantômes selon Aby Warburg, Paris, Éditions de Minuit, 2002.

IDEM, Ce que nous voyons, ce qui nous regarde, Paris, 2007.

DORFLES, Gillo, As Oscilações do Gosto, ed. portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 2001.

DUBOIS, Claude-Gilbert, Le Bel Aujourd’hui de la Renaissance. Que reste-t-il du XVIe siècle ?, Paris, Seuil, 2001.

ELIADE, Mircea, Tratado de historia das religiões, Ed. Cristiandad. Madrid, 1974.

FALGUIÈRES, Patricia, «Préface. La société des objects» e «Postafe. Lire Schlosser aujoud’hui ?», ed. francesa de Les Cabinets d’art et les merveilles de la Renaissance tardive, de Julius von Schlosser (Leipzig, 1908), éditions Macula, Paris, 2014, pp. 8-60 e 266-350. 

FRANÇA, José-Augusto, Memórias para o Ano 2000, Livros Horizonte, Lisboa, 2000.

Idem, O Ano X. Lisboa, 1936. Estudo de Factos Socioculturais, ed. Presença, 2010.

FREEDBERG, David, (ed. francesa), Le Pouvoir des Images, Paris, Monfort, 1998.

GÁLLEGO, Julián, Imágenes y simbolos en la pintura española del Siglo d’Oro, Cátedra, Madrid, 1968.

GELLNER, Ernest, Pós-modernismo, razão e religião. Sobre as principais correntes de pensamento actuais, Ed. Instituto Piaget, Lisboa, 1994.

GINZBURG, Carlo, A Micro-História e outros ensaios, Lisboa, Ed. Difel, col. ‘Memória e Sociedade’, dirigida por Diogo Ramada Curt, trad. de António Narino, Lisboa, 1992.

GOMBRICH, E.H., Aby Warburg: an Intellectual Biography, 2ª ed., London, 1986 (ed. Aby Warburg: una biografia intellectual, Alianza Forma, Madrid, 1992.

Idem, Symbolic Images. Studies in the Art of the Renaissance, Phaidon Press, Londres, 1972 (trad.: lmágenes simbólicas. Estudios sobre el arte deI Renacimiento, Alianza Ed. Madrid 1983).

Idem, Los usos de las imagenes, Debate, Barcelona, 2003 (trad.).

GOMES, Hélder, Relativismo Axiológico e Arte Contemporâneda. Critérios de Recepção Crítica da Obra de Arte – Uma leitura de Filosofia da Arte de Arthur C. Danto, tese no Departamento de Filosofia (com orientação de António Pedro Pitta e Vitor Serrão), Universidade de Coimbra, 2002.

GONÇALVES, Flávio, História da Arte. Iconografia e Crítica, Lisboa, INCM, 1983.

HADJINICOLAOU, Nicos, «La Liberté guidant le peuple de Delacroix devant son premier public», Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nº 28, 1979, pp. 3-26.

Idem, Histoire de l’art et lutte des classes, Maspero, Parias, 1973.

HALL, Stuart, Questions of Cultural Identity, London, 1996 (trad. brasileira, A Identidade cultural na Pós-Modernidade, ed. Rio de Janeiro, 1999).

HALLETT, Jessica, e PEREIRA, Teresa Pacheco (coord.), O Tapete Oriental em Portugal. Tapete e Pintura. Séculos XV-XVIII, cat. de exp., Instituto Português dos Museus, MNAA, Lisboa, 2007.

HASKELL, Francis, L’Historien et les Images, Paris, Gallimard, 1995.

HENIN, Emmanuelle, ‘Ut Pictura Theatrum’. Théatre et Peinture de la Renaissance italienne au Classicisme français, Droz, Genève, 2007.

HOBSBAWM, Eric, Através dos tempos: declínio e queda das vanguardas do século XX (título original Behind the times - the decline and fall of twentieth-century avant-gardes), trad. de Raquel Mouta, ed. Campo de Letras, Porto, 2001.

LYOTARD, François, The Postmodern Condition (1979), ed. Manchester University Press, 1984.

LÓPEZ TORRIJOS, R., La mitología en la pintura espanola dei sigla de oro, Ed. Cátedra. Madrid 1985.

MÂLE, E., L 'art religieux en France. Armand Colin. 3 vols. Paris, 1985.

PACHECO, F., El Arte de la Pintura (1649), ed. Cátedra Madrid, 1990.

PANOFSKY, Erwin, Estudos de Iconologia. Temas humanísticos na arte do Renascimento (Oxford, 1939) (ed. Lisboa, Estampa, 1986).

Idem, ldea. Contribución a la historia de la teoría del arte, Ed. Cátedra. Madrid, 1982.

Idem, Meaning in the Visual Arts (Garden City, New York, 1955) (trad. port., O Significado nas artes visuais, Lisboa, ed. Presença).

Idem, Renascimento e Renascimentos na Arte Ocidental, trad., Lisboa, ed. Presença, 1981

PEREIRA, Paulo, A Obra Silvestre e a Esfera do Rei, Univ. de Coimbra, 1988.

RACZYNSKI, Atanasio, Les Arts en Portugal, Paris, 1846.

RODRIGUES, Ana Duarte (coord.), O Gosto na Arte. Idade Moderna, Lisboa, ed. Scribe, 2014.

SALDANHA, Nuno, Artistas, Imagens e Ideias na Pintura do Século XVIII. Estudos de Iconografia, Prática e Teoria Artística, Lisboa, Livros Horizonte, 1995.

SCHMITT, Jean-Claude, Le corps des images. Essais sur la culture visuelle au Moyen Âge, Paris, Gallimard, 2002.

SEBASTIÁN, Santiago, Contrarreforma y barroco, Madrid, Alianza.

SCHAPIRO, M., Estudios sobre el arte de la Antigüedad tardía, el cristianismo primitivo y la Edad Media, Alianza ed., Madrid 1987.

SERRÃO, Vitor, A Cripto-História da Arte. Análise de Obras de Arte Inexistentes, Horizonte, Lisboa, 2001.

Idem, A Trans-Memória das Imagens. Análise Iconológica de Pintura Portuguesa (sécs. XVI-XVIII), Lisboa, Cosmos, 2007.

SOBRAL, Luís de Moura (coord.), Struggle for Synthesis. A Obra de Arte Total nos Séculos XVII e XVIII. The Total Work of Art in the 17th and 18th Centuries, Lisboa, 2 vols., Instituto Português do Património Arquitectónico, 1999.

WARBURG, Aby M., Images from the Region of the Pueblo Indians of North America (1923), trad. e estudo de Michael P. Steinberg, Cornell University Press, 1995.

Idem, Essais Florentins, ed. Kliensick, 1990.

Idem, The renewal of Pagan Antiquity, intr. de Kurt W. Foster, The Getty Research Institute, Los Angeles, 1999.

Idem, El renacimiento del paganismo. Aby Warburg, ed. Felipe Pereda, Elena Sánchez Vigil, Alianza, 2005.