A Semiótica, de Omar Calabrese a Martine Joly.

16 Março 2021, 14:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

TEORIA DA HISTÓRIA DA ARTE: COMO SE LÊ UMA OBRA DE ARTE, À LUZ DA SEMIÓTICA DE OMAR CALABRESE.

OMAR CALABRESE, “Como se Lê uma Obra de Arte”, Edição em língua portuguesa de Edições 70, Lisboa, 1997, ISBN 972-44-0963-5, 144 pp. (125 de texto). Título original “Cómo se lee una obra de arte”, Ediciones Cátedra, S.A., 1993.

AUTOR: OMAR CALABRESE – Professor de Arte e Semiótica na Universidade de Siena, natural de Florença, onde nasceu em 1949.

O que é a Semiótica – teoria dos signos:

—Semiótica, Signo, Significação. O signo como elemento do processo de comunicação. Definição de semiótica como teoria dos signos (Charles Sanders Peirce). Semiótica (Peirce) e Semiologia (Saussure). Tipos e classificação dos signos. A arbitrariedade do signo: código e contexto.—A função-signo (Roland Barthes).  Níveis de significação: denotação e conotação.  A retórica da imagem: a publicidade e a moda. —A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica (Walter Benjamin). Os efeitos da técnica. Fotografia e cinema.

—Percepção e cognição visual. Espaço e tempo. Sentido e representação. Perspectiva e movimento. Cores e formas. Imagem e grafismo. Desafios dos novos meios. Imagens manipuladas e sentidos construídos.  

A Intertextualidade: - É nesta linha teórico-interpretativa que Calabrese escolhe como análise-modelo “Os Embaixadores” de Hans Holbein, o Jovem.- Importância da aplicação do modelo característico da semiologia pictural à Pintura, entendida como linguagem estruturada e autónoma.

- Em resumo, Omar Calabrese pertence a uma nova geração de críticos de arte cujos pressupostos teóricos se afirmam na década de 90 e onde se incluem nomes como Victor I. Stoichita, Marc Bayard, David Freedberg, Georges Didi-Hubermen, Hans Belting, etc.

- No discurso teórico de Calabrese transparece toda uma utensilagem metodológica alimentada por conceitos operativos fundamentais para a descodificação do processo comunicativo, no qual ocupa lugar privilegiado a linguagem artística e, naturalmente, o discurso pictórico. Assim se compreende a alusão, nas suas análises, a termos como estratégia discursiva, narratividade, metáfora, signo, unicidade, memória, autenticidade, totalidade, alegoria, trans-semioticidade, contextualidade, cruzamento… propondo uma verdadeira taxonomia.

Do ponto de vista crítico, a grande abertura expressa por Calabrese relativamente ao processo de análise da obra de arte, é bem o espelho da sua atitude de humildade, patente no seu reconhecimento de que a mensagem da obra não se esgota no signo, enquanto substituto significante de qualquer coisa. Daí o apelo do autor a elementos exteriores ao conteúdo, sejam eles dados biográficos, informação histórica, relações do artista com a sociedade, domínio da iconologia, etc., os quais embora excluídos do processo comunicacional, completam o entendimento da globalidade da obra de arte.

Muitas das questões colocadas por Calabrese relativamente ao universo comunicativo da produção artística continuam em aberto, pois no actual estado do debate teórico nada está definitivamente encerrado. A obra de arte oferece-se à interrogação, e a abordagem semiótica não a esgota; as áreas cruzadas com a semiologia, designadamente no domínio das ciências humanas, a interdisciplinaridade, a aproximação metodológica a outras linguagens da crítica, constituem recursos que tornam inesgotável o processo de inteligibilidade da obra.

Como se lê uma Obra de Arte” é uma obra de qualidade inquestionável para estudiosos, críticos e historiadores da arte, com destaque para o seu contributo semântico, o qual justificaria o melhoramento da qualidade de reprodução das imagens reproduzidas e, bem assim, do teor de informação veiculada pelas respectivas legendas.

BIBL.:

—JOLY, Martine (1999), Introdução à análise da imagem, Lisboa: Edições 70.
FIDALGO, António, GRADIM, Anabela (2005), Semiótica Geral, disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/fidalgo-antonio-manual-semiotica-2005.pdf
BARTHES, Roland (1984), O óbvio e o obtuso, Lisboa: Edições 70.
BENJAMIN, Walter (1999), Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, Lisboa: Relógio d''Água.
JOLY, Martine (2000), A imagem e os signos, Lisboa: Edições 70.
MANOVICH, Lev (2005), El lenguaje de los nuevos medios de comunicación. La imagen en el era digital, Barcelona: Paidós.
MONTEIRO, Gilson (1997), A metalinguagem das roupas, disponível em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/monteiro-gilson-roupas.pdf
PEIRCE, Charles Sanders (1977), Semiótica, São Paulo: Perspectiva.
SONTAG, Susan (1986), Ensaios Sobre Fotografia, Lisboa: Dom Quixote.