Teste presencial

6 Abril 2021, 14:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

TEORIA DE HISTÓRIA DA ARTE

 

Teste presencial / 2º semestre / FLUL, Anf. IV, 6 de Abril de 2021

Prof. Vítor Serrão

 

 

I

 

Leia atentamente as sete seguintes questões e escolha apenas DUAS delas. De seguida, responda de modo claro e suficiente ao tema em apreço, recorrendo a exemplos se necessário:

 

 

1.      Porque ordem de razões, segundo o historiador de arte Giulio Carlo Argan, a História da Arte e a Crítica da Arte são faces indissociáveis de uma mesma disciplina ? Ou seja, poderá conceber-se um historiador de arte que não seja também um crítico de arte, e vice-versa ?

 

2.      Entre muitos outros contributos, o iconólogo Aby Warburg (1866-1929) desenvolveu a noção de Denkraun como via plural de pesquisa em torno dos problemas suscitados pelas obras de arte. Defina-a e contextualize-a enquanto legado imprescindível à investigação do nosso tempo.

 

3.      Um livro centenário, Artistry of the Mentally Ill (1922), de Hans Prinzhorn (1886-1933), defende o papel curativo das artes no combate às doenças do foro mental. Como diz, a revelação do talento artístico ajuda à concentração e auto-estima. Explique qual a sua actualidade.

 

4.      Para Georges Didi-Huberman, importa não só pensar a imagem mas pensar por imagens, ou seja, desdobrar os códigos imagéticos para descobrir os seus valores de uso e afecto, válidos para o nosso tempo. Porque razão cabe, a partir da arte, «atentar nas pulsões e sofrimentos do mundo, e transformá-los e remontá-los numa forma explicativa implicativa e alternativa» ?

 

5.      Será que as bases teóricas e práticas do Formalismo se esgotaram no exemplo oitocentista de Giovanni Morelli ou, pelo contrário, a metodologia formalista conquistou o seu necessário lugar na História da Arte em renovadas bases de aferição crítica ?

 

6.      Em que medida o conceito de Trans-Contextualidade, formulado por Arthur C. Danto, veio alargar e reestruturar a prática da História Crítica da Arte, abrindo novas vias de análise e fruição das obras de arte e alargando o espaço da artworld ?

 

7.      Em termos teóricos e metodológicos, a História da Arte precisa de se abrir também ao campo das obras de arte mortas, através da dimensão cripto-artística. Qual a razão imperiosa dessa deriva ? 

 

II

 

Leia atentamente os quatro seguintes temas de desenvolvimento e escolha apenas UM deles: à luz dos seus conhecimentos de Teoria da Arte, comente-o num texto de reflexão clara, bem estruturado, suficientemente desenvolvido e com a possível contribuição original.

 

 

1.        Face às novas derivas iconoclásticas, vemos a História da Arte desguarnecida, como que impotente face a uma espécie de estrada de ruína, de violência e de esquecimento em que a dimensão aurática se esgota. É pois fundamental estudar os mecanismos de apreciação e desapreciação da arte e afirmar o fascínio da sua vivência, o imenso poder que abre a um olhar estético sempre trans-contemporâneo. Só com tal base teórica se pode enfrentar o iconoclasma e a insustentável miséria de todo o tipo de censura e, se possível, criar pontes mais solidárias. Comente, com exemplos adequados.

 

2.        «Uma visão globalizante (e ontológica) sobre o mundo das artes define as linhas-mestras da produção artística à luz do que ela traz de perene e de inexprimível: o debate que se renova, as questões estéticas que se abrem, os sentidos plurais dos sons e das formas, o movimento contínuo algures entre o efémero e o inesgotável» (Theodor Adorno). Será o conceito de sublime definido por esse filósofo marxista (Escola de Frankfurt) valioso para a História-Crítica da Arte nos dias de hoje ? E como se adequa esse conceito no seio das «indústrias culturais» ? Comente.

 

3.        A busca de um sentido de dignificação social e de uma justificação ética consumiu o empenho de várias gerações de artistas, fascinados pelo exemplo da Antiguidade narrado por Plínio o Velho. Desses interesses se fortaleceram as teses neoplatónicas e as teorias globalizantes sobre a ideia criadora das artes, com uma dimensão estética e ética ordenadora do mundo. A arte, sob esse ponto de vista, pode ser sentida como «remédio para os males da humanidade», como escrevia em 1577 Benito Arias Montano (1527-1598) ? Mais do que utópica, a defesa da liberdade artística com base ontológica, feita por este humanista, torna-a um imperativo moral expresso na valência estética. Quando se admira a gravura A verdadeira Inteligência inspira o Pintor (Staatlische Museum, Berlim) e se lê o poema latino que a acompanha, vemos um discurso sobre arte, emoção e beleza ideal aliada à alegoria clássica e aos conceitos neoplatónicos da bondade inata. Comente a actualidade destes princípios de Arias Montano.

 

4.        Segundo Hans Belting, antropólogo das artes, importa perceber o sentido das imagens internas e externas: «as primeiras são endógenas, produzidas pelo próprio corpo, enquanto as segundas precisam sempre de uma intermediação técnica para chegar aos nossos olhos». Perpetuar a dicotomia entre matéria e espírito é um erro, pois «somos os únicos que, pela nossa maneira de pensar ocidental, consideramos os dois tipos de imagens como irremediavelmente antinómicas». Acresce que as imagens interiores têm uma origem colectiva, historicamente delimitada, tal como as imagens exteriores dependem também das imagens interiores. Comente, não esquecendo o que este autor defende no livro Florença e Bagdad. Uma História o Olhar entre Oriente e Ocidente (2011).