Apresentação do Programa
25 Janeiro 2022, 11:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
TEORIA DA HISTÓRIA DA ARTE (nº 78023)
LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA ARTE E PATRIMÓNIO
3º ano --- 2º semestre, FLUL, 2021-2022
Docente: Prof. Doutor Vitor Serrão
Sinopse: objectivos gerais
O programa da disciplina visa definir conceitos,
fundamentos, objectivos fundamentais (e também limites) do pensamento teórico
envolvendo a produção artística, e a História da Arte que a estuda, vendo esta como
um ramo científico da Ciência das Humanidades que visa estudar, interpretar,
avaliar e dialogar com as obras de arte. Importa, assim, estruturar as bases de
teorização dos fenómenos de criação, recepção, re-criação e fruição, com
recurso ao estudo de artistas, movimentos estéticos, correntes, posições
críticas, discurso das obras segundo uma reflexão plural e, em especial, a
conceitos e princípios ligados à produção das artes. Dá-se enfoque à
Iconografia e à Iconologia, instrumentos operativos da ciência histórico-artística,
e ao modo como a disciplina foi posta em prática desde Aby Warburg a Erwin
Panofsky, passando por E. H. Gombrich, Ernst Cassirer, Meyer Schapiro, Gertrud
Bing, Frances Yates, Michael Baxandall, David Freedberg, George Didi-Huberman e
Daniel Arasse para explicar a operacionalidade da análise iconológica, até à
Sociologia da Arte (Pierre Francastel) e ao marxismo (Frédéric Antal, Theodor
Adorno, Nicos Hadjinicolaou), à psicologia da arte (Hans Prinzhorn), ao
feminismo (Linda Nochlin, Griselda Pollock) e às correntes de género, à tradição recente de estudos iconológicos (Hans
Belting, Axel Bolvig), não esquecendo as visões sobre a obra aberta (Umberto Eco) e a indústria
cultural (Theodor Adorno) nem os conceitos de artworld de Arthur C. Danto, Howard Becker e Raymonde Moulin.
Estudam-se a essência e transcendência
das obras de arte e seus tipos
comportamentais (trans-contextuais,
trans-memoriais) incluindo os fenómenos de repulsa e fascínio (iconofilia, iconoclastia), com recurso a
exemplos medievais, modernos e contemporâneos. Dá-se relevo à teoria do
humanista Benito Arias Montano sobre a bondade
das artes. Aborda-se a prática da História da Arte na sua base de teorização
com enfoque nas correntes Positivista, Formalista, na História Social da Arte,
na Micro-História da Arte, na Semiótica, Psicologia da Arte, em «géneros»
emergentes como o Feminismo, o Pós-Colonialismo, os Lesbian and Gay Studies, a Art
Outsider e a Art Brut, a Street Art, e aquilo que, em suma, se chama
História da Arte Total, com suas
visões globalizantes. Estudam-se, enfim, os conceitos de liberdade individual e
de produção e as instâncias do mercado contemporâneo à luz das circunstâncias
da Globalização e das novas tecnologias. A disciplina visa, assim, dar um
balanço necessário sobre os problemas teóricos a par do bom uso das novas
metodologias pluri-disciplinares no campo da investigação em História da Arte,
sem perder nunca a conceptualização analítico-descritiva e crítica dos
fenómenos do mundo da criação que envolvem o facto artístico. Assim, o programa estrutura-se, com naturalidade,
por estes e outros pontos de análise, propondo uma reflexão sobre os modos de ver a arte e de problematizar
tanto o acto criativo como a sua plena fruição.
PROGRAMA
1.2. Consciência da trans-contemporaneidade das artes.
1.2. Definição de arte:
perspectivas antigas, discursos novos.
1.3. Fortuna crítica da globalização: consumismo,
mercado das artes, renovação de discursos.
1.4. Globalização e progresso: investigar em (e com)
arte, hoje.
1.5. História e Crítica da Arte, um destino comum.
2.1. História das imagens e das
ideias expressas pelas imagens, ou a alternativa às correntes positivistas,
deterministas e formalistas.
2.2. Antecedentes da Iconologia:
desde Jacob Burckhard a Aby Warburg (1866-1929), a Fritz Saxl (1890-1948), a
Erwin Panofsky (1892-1968) e à criação do Warburg Institute.
2.3. O desenvolvimento do método: a
obra monumental de Erwin Panofsky e suas relações com a Filosofia, a Semiótica,
a Psicanálise, a Antropologia e outras ciências.
2.4 Instrumentos e materiais:
gravados, desenhos, formas de reprodução e transmissão.
2.5. Heranças panofskianas: a
iconologia como uma disciplina humanística.
2.6. Problemas de ordem
metodológica, teórica e prática na definição do pensamento iconológico. Alguns
exemplos no terreno da arte portuguesa.
2.7. A «nova iconologia»: renovação de usos, métodos
de análise e bases interpretativas.
3.1. A secularização da imagem e a
utilização de correspondências de imagens pagãs. A ideologia neoplatónica.
Revitalização dos programas astrológicos. -- A Emblemata de Alciato, a Iconologia de Cesare Ripa e as obras de
Horapollo, Francesco Colonna, Pietro Valeriano e Otto Vaenius. O movimento
neoplatónico florentino e a obra de Marsilio Ficino; a pintura de Sandro
Botticelli, Miguel Ângelo, Baccio Bandinelli, Ticiano.
3.2. A arte como remédio para os males do mundo:
Benito Arias Montano e as teorias de humanização através das artes.
3.3. A Igreja Católica contra a
iconoclastia protestante: o decorum.
Renovação iconográfica no Concílio de Trento; propaganda catequética e imagem sagrada. Santos e modelos
(mártires, místicos, ascetas).
3.4. O conceito de arte total do Barroco: o tratado de Giovan Pietro Bellori.
3.5. Arte para crer ? Ver para crer ? Ou crer na arte
???
4. A época
contemporânea: novas visões, novas globalizações.
4.1. A visão iconológica e a arte na Revolução
francesa (Les barricades de
Delacroix).
4.2. A visão iconológica face à «arte degenerada» e à
«arte de resistência» (a propósito da produção artística hitleriana,
mussoliniana, estalinista, franquista e salazarista).
4.3. O conceito de História da Arte total e como parte integrante de uma interpretação
globalizante das obras de arte particulares.
4.
4.5. A visão iconológica e a produção das ‘novas
vanguardas’ da segunda metade do século XX (Hobsbawm, o contributo do marxismo e
o debate em torno da ‘morte das vanguardas’).
4.6. Iconoclasma e iconofilia: o poder e a
fragilidade absoluta da obra artística. Tipologias do iconoclasma.
5. Questões
permanentes: arte como fenómeno trans-contemporâneo e sempre em movimento.
5.1. De Ripa-Baudoin à Ciência das Imagens de Warburg
e Panofsky.
5.2. A História da Arte total. Sentido e limites da
abordagem iconológica.
5.3. A Iconologia face às suas múltiplas abordagens
(sociológica, marxista, filosófica, psicanalítica, semiótica). A dimensão
cripto-artística.
5.4. De Arthur Belting à Nova Iconologia: novas
problematizações.
5.5. Teoria da trans-contemporaneidade das artes.
Objectivos de aprendizagem: Estimular e desenvolver a prática
de investigação na perspectiva de maiores conhecimentos no campo da Teoria da
Arte e da Estética, definindo o objecto de estudo da História da Arte, as
definições de «arte», «cliente», «mercado» e «mundo da arte, questionando as
grandes linhas do debate teórico nesta área e os saberes em campos como a
Iconologia, a Semiótica, a Sociologia da Arte e os novos géneros da História da
Arte. Promover a autonomia crítica com base na solidez dos conhecimentos
adquiridos. Desenvolver competências de acordo com o perfil de um Doutorando:
planeamento e execução de uma dissertação, com peso na problematização teórica
de um tema específico, alargando as perspectivas multidisciplinares e
globalizantes.
Demonstração da coerência dos
conteúdos programáticos com os objectivos de aprendizagem da unidade: A análise e o debate dos casos de estudo enunciados
permitem alcançar os objectivos de aprendizagem pretendidos em torno da Teoria
da Arte. Os temas escolhidos procuram abranger diferentes épocas e tipos de produção
artística, bem como circunstâncias distintas de identificação, estudo,
teorização e qualificação estética. Procura-se, ainda, atender às formas de
divulgação dos resultados da pesquisa, segundo diferentes tipos de discurso,
consoante os públicos a que se destinam. Este exercício destina-se a
desenvolver as competências no campo da realização das teses de doutoramento
dos alunos.
Metodologias de ensino (avaliação
incluída): O ensino assente numa
tipologia de Seminário, onde se procura uma exposição clara e objectiva dos
casos de estudo. Estimula-se o debate, com a participação crítica dos alunos. A
acompanhar a perspectiva conceptual, são referidos exemplos práticos
resultantes da aplicação dos critérios de actuação. É fornecida uma abundante
documentação visual para estimular a compreensão do processo de actuação. A
avaliação é ponderada entre o nível e qualidade de participação (10%), um teste
presencial (40%), e a realização de um trabalho prático de reflexão original
sobre uma questão de Teoria das Artes, que será objecto de apresentação e
discussão (50%). O Teste Presencial realiza-se a 28 de Abril. O Trabalho
Prático,
texto crítico sobre um texto, um autor ou uma problemática teórica relacionada
com a História e Crítica da Arte, a entregar até ao final do Semestre (em
início de Maio no limite) e a apresentar oralmente numa aula suplementar de
avaliação e discussão.