Um balanço sobre o pensamento de Aby Warburg.
24 Fevereiro 2022, 11:00 • Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão
Aby Warburg: actualidade de um pensamento
Aby Warburg nasceu
em 1866 em Hamburgo no seio de uma antiga família de ricos
banqueiros judeus, e teve a existência assegurada pela fortuna familiar, o que
mostra, “pelo exemplo pessoal – disse-o em carta ao irmão
Max Warburg de 30 de Junho de 1900 – que o capitalismo pode também levar
a cabo um trabalho de reflexão com o mais vasto alcance”. A tese que apresentou
em 1891 em Estrasburgo sobre O Nascimento de Vénus e A
Primavera, de Botticelli, inicia um trabalho de investigação de décadas
com objecto no Renascimento e na sobrevivência (Nachleben) da
Antiguidade. Logo aí começa a dar-se conta dos limites de uma História de Arte
“esteticizante” e “formal”, tal como resulta de uma abordagem meramente erudita
da história dos estilos e da avaliação estética. Fazendo da
“imagem” centro nevrálgico da sua investigação, tentou compreender o modo como
ela é dotada de enorme permeabilidade às sedimentações históricas e
antropológicas e inserida num processo de transmissão de culturas, facto esse
pleno de implicações na própria arte viva. Tratou de conceber uma complexa
temporalidade das imagens (à maneira de Walter Benjamin, “escova a história
a contra-pêlo”...), em que estas, não se reduzindo a simples documento da
História, são dotadas de vida póstuma e
mostram que é possível estabelecer uma ligação entre épocas que a
historiografia nos habituou a considerar completamente diferentes. No estudo
que fez dos frescos do Palácio Schifanoia, de Ferrara, onde pela primeira
vez refere o método iconológico, Warburg mostrou
precisamente que há uma ligação entre a Antiguidade, a Idade Média e a época
moderna. A História da Arte não se define no sentido cronológico ou
evolutivo da análise estilístico-formal, mas sim através do estudo do sentido
da involução morfológica que afecta de ana- cronismo todos
os modos históricos e estilos. Urge estabelecer um espaço de
reflexão e de investigação – Denkraun – que permita
o projecto de uma psicologia histórica da
expressão humana a partir do estudo das imagens. Esse teatro será
a Biblioteca, construída a partir de 1926 em Hamburgo para albergar
a Kultgurwissenschstliche Bibliothek Warburg.