Conceitos fundamentais na classificação de escritas II

23 Outubro 2018, 16:00 Susana Tavares Pedro

6. escrita de chancelaria
Em documentos que manifestam a vontade do soberano ou de outra autoridade temporal ou esptiritual, a exigência de serem distintivos e de transmitirem autenticidade e solenidade reflecte-se na elaboração voluntária de escritas especiais, com características que favorecem a identificação com a chancelaria de origem e que por vezes sacrificam outros critérios como a legibilidade ou a estética. São mudanças rápidas porque pensadas e propositadas. Têm como resultado formas artificiosas, convencionais, sempre mais ou menos diferentes das usuais, frequentemente com traços acessórios supérfluos introduzidos não tanto com finalidade estética mas sim com o objectivo de assegurarem a caracterização e como garantia de autenticidade.
7. Escrita livresca (Cencetti) 
A regra que se estabelece na escrita de livros é em direcção à clareza. As alterações são mais lentas e graduais que as que se dão no âmbito das chancelarias; as exigências estéticas têm grande influência porque o público exige escritas claras mas também belas: este género tende para o espaçamento das letras, a armonia das dimensões e das proporções, a regularidade do alinhamento, a exactidão do traçado, e a simplicidade dos signos. Estre processo desenvolve-se na maior parte dos casos em oficinas de escrita, entre copistas profissionais. 
8. Escritas canonizadas 
ambos os processos assentam numa tendência predominante (clareza ou solenidade). quando a escrita resultante se torna de uso geral nos géneros de escritos aos quais se aplica, as formas resultantes mantêm-se estáveis e as regras de escrita elaboradas fixam-se em cânones seguidos obrigatoriamente. Temos então escritas canonizadas, que se distinguem das usuais (normais) (mutáveis e sempre em desenvolvimento). Estas escritas conservam-se fixas durante mais tempo porque a canonização das suas regras não admite inovações substanciais, acabando por se tornar cada vez mais antiquadas e inadequadas às novas exigências. Em certos momentos o distanciamento torna-se intolerável e 1) as chancelarias abandonam as suas escritas peculiares e 2) as livrescas são ou abandonadas pelas escolas escribais ou se "abrem" relaxando o cânone e admitindo novas formas que acabam por se sobrepôr às antigas. Em ambos os casos normalmente começa um novo processo de canonização, com base nas escritas usuais que entretanto se continuam a modificar e a evoluir. 
9. Escritas tipificadas
 O que foi descrito é um paradigma, uma abstracção dos processos individuais concretos e históricos. Algumas tipificações dão tentativas de elaboração de uma escrita livresca que se prendem com a formação de regras gráficas mas não com a sua fixação em cânones e que, portanto, desaparecem rapidamente, ou formas intermediárias entre as cancellerescas e as usuais que surgem em determinados lugares em tempos específicos (por exemplo em documentos notariais). 
10. Escrita documental (Derolez) 
(A. Cruz: epistolaris) (2003: 4) A separação entre livros e documentos remove a base para compreender a evolução e diversificação das escritas. Em traços gerais, a relação entre escritas livrescas e escritas documentais pode ser esboçada assim: as escritas livrescas implicam um grau mínimo de formalidade enquanto as escritas de documentos tendem a ser informais. Nestas, as formas das letras alteram-se e tornam-se cursivas para conseguir maior rapidez de escrita.. Podem apresentar características como arredondamento, alargamento, reduzido número de traços por via de laçadas e ligaduras, fragmentação, etc. Com o tempo, as novas formas tornam-se a norma e podem ser estilizadas e executadas de modo caligráfico através do aumento do número de traços e diminuição das ligaduras, criando assim uma nova escrita livresca canonizada. A diversificação de escritas documentais ao longo de linhas regionais e nacionais foi sempre maior do que a das escritas livrescas.