Projecção do Filme "Le Ductus", de Jean Mallon

6 Novembro 2018, 16:00 Susana Tavares Pedro

PERIODIZAÇÃO

A - (Battelli 2002: 53)

Três grande períodos: 

1.º        escrita nos centros de cultura romana e tardo-antiga (s. I-VIII)

2.º        escrita nos centros de cultura medieval

            a)  séc. VII-XII, predomina a produção librária monástica

            b) séc XIII-XIV, predomina a produção librária universitária e da sociedade laica e eclesiástica

3.º        escrita na idade moderna (desde o s. XV) 

B - (Cencetti 1997: 56)

Quatro períodos:

1.º        unidade da escrita romana (as mesmas escritas usadas em todos os países de cultura latina. Termina com a formação dos reinos bárbaros: França e Espanha no s. V, Itália, finais VI)

2.º        escritas nacionais = particularismo gráfico: formação de diversas escritas, canonizadas e não-canonizadas, nos vários países e reinos em que se desmembrou o Império Romano do Ocidente

3.º        carolino-gótico: reconstituição da unidade de escrita do Ocidente com a adopção de uma nova escrita latina única; França, Alemanha e Itália do Norte no séc. IX, Espanha final XI, Portugal séc. XII, Ilhas Britânicas, XII, Itália do Sul entre XII e XIII

4.º        humanístico-moderno: recuperação das formas da época carolíngia pelos humanistas italianos (s. XV) e ulterior adopção nos países europeus (XVI e XVII) com excepção da Alemanha; Portugal fins XVI-XVII

 

HISTÓRIA DA ESCRITA LATINA I

O alfabeto latino original deriva do etrusco mais antigo e compõe-se de 21 letras às quais se juntam 3 signos para numerais.Entre os séculos VII e IV aC adapta-se à fonética latina (C -> G; F) Forma-se a base de uma escrita usual 

1. Na epigrafia (únicos testemunhos conhecidos) sofre influência estética e regulariza-se, inscreve-se no sistema bilinear, dá-se uniformização dos ângulos e geometrização das formas É o que Cencetti chama de estádio da “normalização” Entre I aC e I dC dá-se a primeira canonização desta escrita usual: 

• geometrização rigorosa segundo ângulos rectos e arcos elípticos próximos do círculo 

• contraste entre traços finos e grossos por influência das incisões de secção triangular 

• alargamento propositado das extremidades das hastes verticais 

2. Paralelamente desenvolve-se uma caligráfica livresca que provoca uma modificação do cânone 

• exagero no contraste • encurvamento dos ângulos 

• alargamento das extremidades das hastes substituído por traços grossos complementares (aquilo a que Mallon chamou elementos acessórios). 

Afastamento do cânone original em direcção ao cursivo “na escrita latina do período arcaico além da instância caligráfica da qual nasce a capital, aparece também uma forte instância cursiva”. Estas tendências estão atestadas desde pelo menos o séc. III aC e duram até finais do séc. II dC "O filão cursivo da escrita latina deriva da escrita arcaica mas, parte viva como é da ‘usual’, não aceita cristalizações, evolui continuamente e aplica a sua obra de redução mesmo a formas alfabéticas talvez canonizadas". A Maiúscula cursiva (men bene Capital cursiva) é uma das multíplices expressões da «usual», que se encontra em graffiti, tabuinhas enceradas e papiros (quer em versão documental quer livresca) mas os testemunhos são pouquíssimos. É uma transformação que ocorre nos 3 primeiros séculos da era cristã. 

 

Mallon [52] - A inclinação da escrita para a direita, que decorre entre os séculos I e II dC na «écriture commune», não se pode explicar senão por

1) uma inclinação da folha para a esquerda, ou

2) a folha permanece direita mas o instrumento, antes seguro entre os indicador e o médio, passa a ser empunhado entre o polegar e o indicador.

De Bellis Macedonicis f. I dC/in. II dC - pela presença dos nomes Filipe e Antíoco - códice em pergaminho

Epitome Livii III dC - rolo de papiro com uma epítome das Histórias de Tito Lívio

Escritas de módulo pequeno (3mm), mesma entrelinha, mesmo peso (contraste).

Diferem no ângulo de escrita. “É pela mudança das posições respectivas da folha e do instrumentos que se explicam as alterações da escrita do De Bellis na Epitome, que afectam as formas de certas letras”. à a localização dos cheios; a tendência à verticalização dos traços oblíquos; a deslocação para a direita do ataque dos traços

o D o H e o Q mostram os efeitos do tratamento cursivo da escrita clássica romana.