História da Escrita Latina III
15 Outubro 2019, 16:00 • Susana Tavares Pedro
escrita(s) Gótica(s)
Battelli – 2.º período : escrita nos centros de cultura medieval
b) séc XIII-XIV, produção librária universitária e da sociedade laica e eclesiástica
O surgimento da escrita gótica é, no fundo, o último período de evolução da carolina, caracterizado por uma tendência para um traçado exageradamente caligráfico, marcado por contraste grande entre traços grossos e finos, com os traços curvos e fluidos gradualmente mais rectilíneos e angulosos. No término desta evolução, surge uma nova escrita, derivada da carolina: a gótica, termo cunhado pelos humanistas que reflecte o desagrado por um tipo gráfico considerado bárbaro quando confrontado com a minúscula carolina.
• contraste entre traços cheios e finos, e espessamento do traçado
• transformação dos arcos em traços angulares
• escrita comprimida, pesada, com tendência para o alongamento das hastes
• desaparecimento da ligadura & e substituição pela nota tironiana ⁊
• uso de um r derivado da capital a seguir a letras de formas arredondadas
• criação de nexos na junção de letras contíguas de curvas opostas (bo, oc, be...)
• desenvolvimento de um alfabeto maiúsculo com formas adaptadas das séries uncial, capital ou minúscula, com duplicação de traços e adição de traços complementares
O grande motor da evolução das escritas góticas foi a mudança cultural que se deu a partir da segunda metade do século XII com a criação dos estudos universitários.
• escritas caligráficas livrescas
• escritas mais modestas, de módulo menor e mais próximas da tradição carolina
• grande variedade de cursivos documentais.
Para simplificação, agrupam-se em dois géneros: a gótica livresca e a gótica cursiva
A escrita gótica deriva directamente da carolina em consequência de uma gradual estilização gráfica, que Batelli denomina um "excesso de maneirismo" que responde a um novo gosto estético reflectido por exemplo na arquitectura. Por outro lado, as novas formas resultam igualmente de uma inovação na técnica de escrita, na mudança do instrumento usado — a pena aparada com bisel à esquerda em substituição do cálamo.
1) livresca (textura)
A mais caligráfica, apurada no século XIII e mais evidente nos códices litúrgicos
Em França, sobretudo, nos manuscritos universitários, aparece a letra parisiense, de menores dimensões e de execução menos caligráfica; os traços verticais por vezes inclinam-se para a esquerda, mantendo grande contraste entre traços finos e cheios, com uma aspecto geral de irregularidade
2) minúscula gótica cursiva
A minúscula gótica cursiva não é uma evolução das cursivas anteriores mas sim uma derivação da minúscula carolina, que sucede em paralelo com o desenvolvimento da gótica livresca, da qual se diferencia pela ligeireza do traçado.
É a escrita de uso comum formada no ambiente das escritas documentais, usada em correspondência particular, nas minutas e documentos, nos livros de contabilidade e registos.
A característica principal é a velocidade de execução, que condiciona e determina a formação de ligaduras, entre letras e laçadas nas hastes, e favorece a tendência para a inclinação da escrita para a direita ou para a esquerda, perdendo a verticalidade caligráfica. O número de abreviaturas cresce em quantidade.
Algumas letras desenvolvem figuras características por causa da forma como se ligam à letra que segue, o c sempre pelo 2.º traço (superior), o d pela haste que forma laçada, o s e f descem sob a linha como o p e q
Desenvolvem-se formas finais para algumas letras: s, m, n e r.
2a) bastarda(s) lettre bâtarde
Em França forma-se uma outra derivação de chancelaria, com traçado regular, menos angulosa, muito inclinada para a direita e com forma particular nas hastes descendentes : mais espessas no topo e terminando em ponta na extremidade inferior. É o tipo de escrita preferido na feitura de códices franceses.
A bâtarde é uma síntese de formas cursivas e caligráficas, usada essencialmente em textos escritos já nas línguas romances e não em latim.ESCRITA HUMANÍSTICA
3.º escrita na idade moderna (desde o s. XV) - Battelli
4.º humanístico-moderno: recuperação das formas da época carolíngia pelos humanistas italianos (s. XV) e ulterior adopção nos países europeus (XVI e XVII) com excepção da Alemanha; Portugal fins XVI-XVII - Cenceti
Em meados dos. XIV, em Itália, ligado ao movimento dos pré-humanistas, houve um descontentamento com a letra medieval.
à roda de 1400, em Florença, dá-se a viragem completa, com a adopção de uma letra nova, não.gótica, a carolina dos séculos 10, 11. Nasce a letra moderna e espalha-se lentamente (em Portugal só cerca de 1550). A partir de 1500 a expansão é rápida fora de Itália, principalmente na França, Inglaterra, Catalunha...., mas na Alemanha só se difunde em meados so século XX
1. Petrarca. Grande humanista Italiano, ele próprio copia os seus textos e desenvolve uma letra especial, que na correspondência privada exprime como o objectivo de encontrar uma letra nova: é a semi-gótica.
Vários dos seus discípulos pré-humanistas continuam a tentativa de reformar a esrita, nomeadamente na segunda metade do s, XIV, Bocaccio. Na mudança de século o chanceler de Florença criara em seu redor um grupo de pré-humanistas de onde surgem três responsáveis pela nova letra: Coluccio Salutati, que introduz uma novidade ao copiar certas letras do alfabeto carolino, Poggio Bracciolini, que em 1402 copia o primeiro códice conhecido escrito integralmente segundo o modelo carolino, e adopta as maiúsculas capitais para as iniciais em substituição das maiúsculas góticas e unciais. Poggio montou uma oficina de escribas de escódices de luxo e difunde-se assim a letra humanística caligráfica solene, tb letra poggiana, que é o modelo transposto para a imprensa.
Niccoló Niccoli é um colega de Poggio, herdeiro de uma família de mercadores, que 20 anos após o primeiro trabalho de Poggio, fabrica para seu uso pessoal uma letra também influenciada pela carolina e que dará origem à humanistica caligráfica. Os códices mais antigos datam da década de 20 do século XV mas não se difunde pela Itália antes da 2.ª metade do século.
Desta desenvolve-se uma escrita mais cursiva, especialmente na corrrespondência, com uso restrito, mas que em 1500 passa igualmente para a imprensa pela mão de Aldo Manuzio, um dos maiores impressores italianos do tempo, que funde o tipo itálico.
Na cúria papel romana forma-se a partir da letra de Nicoli uma variante caligráfica, entre 1500 e 1520, a que se chamou a cancelleresca.
Surgem os primeiros manuais de caligrafica, da mão de Ludovico Arrighi (La operina) que ensina a cancelleresca e de Tagliente, em Veneza, que publica a Opera dhe insegnare a scrivere, obras que promovem a rápida difusão da nova letra.