A escola francesa na base do teatro português moderno

14 Novembro 2016, 10:00 Maria João Monteiro Brilhante

Entre 1835 e 1837, uma companhia de teatro francesa instala-se em Lisboa no teatro da Rua dos Condes e representa em Francês um reportório de peças de autores franceses que tinham grande sucesso em França nessa altura. Algumas dessas peças correspondiam a um género de teatro que começara a ter sucesso em Paris no final do século XVIII - o melodrama - que correspondia a uma ruptura com o teatro clássico (tragédias de Voltaire, comédias de Molière e dos seus sucessores) e que juntava temas e figuras da actualidade, que espelhavam os valores da burguesia (classe que se tornará dominante depois da Revolução Francesa dos anos 90 do século XVIII) assentes na harmonia familiar, no amor e no sentimento, na busca da felicidade. Esses "dramas burgueses" como lhes chamou Diderot anos antes, exigem um tipo de actuação diferente, mais expressiva e a coexistência do cómico e do trágico dando assim a imagem da complexidade do psiquismo humano. O exemplo para estes autores que precedem o Romantismo e para os românticos depois é Shakespeare. Os melodramas desenvolvem essa mistura do trágico e do cómico em cenas de alguma violência e em personagens de sensibilidade extrema (os maus e o bons opõem-se e lutam pelo poder e pela sobrevivência). São em 5 actos e várias cenas e têm uma característica épica (quer dizer, narrativa como se representassem uma história de várias personagens e suas aventuras, à semelhança do romance). O melodrama está ainda hoje vivo nas telenovelas. 
O público português desse início do século XIX, tempo de convulsões sociais e políticas, vai entusiasmar-se com os melodramas que Émile Doux, Paul e os actores da companhia francesa lhes apresentam. E quando a companhia regressa a França Doux e Paul ficam, para criar um companhia portuguesa com jovens actores a representar esse repertório francês agora em tradução. São estes dois homens que irão formar os novos actores que Garrett quer que venham a constituir a companhia do futuro teatro nacional. Paul será também professor no Conservatório. Eram os melodramas e algum repertório original português que subia à cena dos dois teatros em funcionamento e depois à cena do Teatro de D. Maria II. Mas para alimentar a actividade dos teatros que a partir de 1846 foram sendo construídos (Ginásio, D. Fernando, Trindade) era preciso traduzir muito teatro estrangeiro, sobretudo francês. Aliás, uma ida ao teatro permitia ver uma peça principal (drama) e outras peças, mais curtas às vezes num acto de género diferente. Ir ao teatro é uma acto social, de convívio, daí a arquitectura do interior do Teatro Nacional D. Maria II em ferradura, para que as pessoas pudessem ver-se umas às outras e confraternizar nos intervalos. (Ler Pensar é Morrer de Mário Vieira de Carvalho, acerca do Teatro de S. Carlos).