Ainda outro teatro quinhentista

27 Outubro 2016, 10:00 Maria João Monteiro Brilhante

Ainda em vida de Gil Vicente começa a escrever-se, a publicar-se e a representar-se um teatro novo, que vem do estrangeiro em traduções ou imitações com origem em Itália e que é praticado na Universidade criada em 1527 e que reúne lentes (professores) muito conceituados: Diogo de Teive, André de Gouveia e Buchanan. Este escreveu uma tragédia chamada Jeftes e Baptistes e Diogo de Teive escreveu uma tragédia sobre David que foi representada em 1550 na presença de D. João III. 

Os jovens universitários conhecem estes textos e lêem a Arte Poética de Horácio em latim, porque o ensino era nessa língua - a língua culta da Europa de então - e alguns dos tragediógrafos gregos e latinos (Séneca foi muito importante) às vezes em adaptação. O teatro (lido, escrito e representado) é uma disciplina obrigatória a partir de 1546.
Dois nomes merecem destaque neste grupo de outros escritores de teatro: Sá de Miranda que além de poesia, escreveu as comédias Vilhalpandos e Os Estrangeiros, esta em 1528, portanto em vida de GV e que tem uma introdução de leitura obrigatória, onde a Comédia surge como figura que se apresenta aos espectadores, os colegas e professores da Universidade onde a peça foi representada. Trata-se de um objecto estranho, onde se percebe a adaptação do modelo da comédia humanista por sua vez imitação das comédias dos autores antigos Plauto e Terêncio.
O outro jovem estudante foi António Ferreira que não apenas escreveu comédias como o Ciosos, mas escreveu a mais importante tragédia de tema nacional - A Castro - adaptando a estrutura da tragédia grega à poesia.

Estes jovens recusavam evidentemente o modelo do auto, seguindo os preceitos de Horácio- 5 actos, coro, versos de dez sílabas (decassílabos), verso branco (sem rima), Mas ambos usavam a língua portuguesa e não o latim, procurando assim uma dignidade clássica para a língua portuguesa.