Ler e entender o jogo teatral e a doutrinação no auto de São Martinho

13 Outubro 2016, 10:00 Maria João Monteiro Brilhante

São Martinho é um auto que se inscreve no género Milagre, muito apreciado na Idade Média. Porque vai Gil Vicente buscar a vida de um cavaleiro francês que foi tornado Santo pela Igreja Católica para celebrar o sofrimento de Cristo? De novo importância das circunstâncias da produção deste auto: encomendado pela Rainha D. Leonor, fundadora das Misericórdias, instituições que acorrem aos necessitados, e das Termas (Caldas) junto à Igreja de Santa Maria do Pópulo nas Caldas da Rainha; celebrações do Corpus Christi nessa localidade que inclui procissão. O auto permite ligar a figura da rainha a São Martinho através da devoção e da caridade e ligar a figura do Pobre em sofrimento à de Jesus Cristo.Leitura em voz alta do auto e reconhecimento da metáfora sobre a qual se constrói o acto de doutrinação dos espectadores (interpelação do devotos cristãos, dos ricos e poderosos que devem ser caridosos e na segunda parte do auto interpelação de Martinho para que seja caridoso, permitindo a Gil Vicente recriar o milagre e transformá-lo para fins doutrinários. Análise da sua dimensão teatral através do desenho do espaço (carreira), dos espectadores (a quem o pobre pede esmola e a quem mostra as suas feridas), da figura do pobre que chama a atenção sobre si (Mirad) e permite a comparação com Cristo. Final com música serve para fecho do auto e portanto para marcar a sua autonomia em relação à procissão e a celebração religiosa. É momento eventual de participação de todos e de forte espiritualidade.