Tipologias e géneros de práticas parateatrais na Idade Média em Portugal e sua importância para o estudo dos autos de Gil Vicente

3 Outubro 2016, 10:00 Maria João Monteiro Brilhante

A partir das considerações de Rebello na obra O primitivo teatro português e da polémica lançada por Luciana Stegagno Picchio em torno do arremedilho como forma originária do teatro português (texto disponibilizado na plataforma Moodle) discutiram-se as características desta forma breve, a extensão da palavra e sua significação (imitar de forma cómica ou paródica) ao campo do teatro e do espectáculo no final da Idade média. A importância dessa forma - que não poderá ser considerada um género de teatro - prende-se com a dimensão do jogo que está presente nas festas (palacianas ou religiosas), com a noção de representação e nada tem a ver com a noção de imitação que veio a ser introduzida no teatro ocidental a partir de Aristóteles e da sua Poética. Outras formas que foram alvo de discussão: o entremez, pequena representação que acompanha um banquete ou está inserida numa festa (referir à imagem do banquete oferecido pelo Rei de França Carlos IV ao Imperador Carlos V com a representação da tomada de Jerusalem) e o momo, representação de acções por mascarados (referir aos momos na festa de casamento do príncipe Afonso, filho de João II).

Analisaram-se ainda os três grandes géneros de teatro medieval que podemos reconhecer em autos de Gil Vicente: mistério (Auto da Geração humana) que tem por tema a vida de Cristo, a moralidade (Auto da Alma) que deforma alegórica fala dos pecados do homens e de como podem redimir-se, o milagre (auto de São Martinho) que representa a conversão de um cristão em santo por graça divina e a farsa, género profano cómico (Inês Pereira).