Teste 1

26 Novembro 2020, 09:30 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

 

I

 

Leia atentamente as seguintes questões e responda em moldes suficientes, claros e bem estruturados, recorrendo a exemplos se e quando necessário, a apenas DUAS delas:

 

1. Em que medida os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves (cª 1470), se podem considerar uma obra não só marcante no contexto da pintura europeia no dealbar da Idade Moderna mas, também, já integrada num contexto proto-renascentista ?

2. O testemunho do poeta Garcia de Resende, na sua famosa Miscellanea, de que «Pintores, luminadores, agora no cume estam», mostra que no tempo de D. João III era uma realidade o ascenso social dos artistas e o estatuto de privilégio que muitos auferiam (Gregório Lopes, Vasco Fernandes, Nicolau Chanterene, João de Ruão, António de Holanda, etc), fruto de uma consciencialização que paulatinamente se impusera. Comente.

3. Em que medida a viagem a Roma empreendida por vários artistas portugueses no reinado de D. João III abriu a nossa arte à influência da Bella Maniera italiana e abriu as consciências de artistas e mecenas no sentido de uma maior liberdade artística ?

4. Entre os novos ‘géneros literários’ que nascem com o Renascimento no panorama das artes, que se deve entender por Parangona e qual a razão do seu sucesso ? Dê um exemplo de Diálogo parangonal.

5. Em que consistem as teses de bondade inata das artes defendidas pelo humanista Benito Arias Montano (poesia A verdadeira Inteligência (Idea) inspira o Pintor, com gravura de Cornelis Cort segundo desenho de Frederico Zuccaro, editado em Roma, 1578) e qual a influência dessas ideias em Portugal ?

6. O conceito de Micro-História da Arte aplica-se bem a uma situação artística como a arte portuguesa do «largo tempo do Renascimento», justamente por nela coabitarem, em registos distintos, peças de vanguarda all’antico e outras de resistência, perduração ou mesmo de epigonismo. Qual a importância deste ‘olhar’ crítico-comparativo aplicado à arte portuguesa do século XVI ?

 

 

II

 

Desenvolva e comente, com a maior clareza e objectividade, num discurso estruturado e fluente, e recorrendo a factos e exemplos adequados sempre que necessário, UM dos três seguintes temas:

 

1. Comente, à luz dos seus conhecimentos sobre a arte do Grotesco romano (de origem clássica e «arqueológica») e sobre a arte do Brutesco (decoração com sentido mais «decoroso») as duas imagens de arte portuguesa que se seguem.

 

Fresco da igreja de Santa Leocádia (Chaves), c. 1509-1511, e tecto de caixotões da igreja da Misericórdia de Torres Novas, 1678.

 

2. A defesa da LIBERALIDADE e a reivindicação de um novo estatuto social moveram os artistas do século XVI no sentido de uma nova consciência social e laboral: a consciência artística. Essa consciência decorre da grande inovação trazida para a Teoria das Artes por Francisco de Holanda (1518-1584), a nível internacional, ao defender o primado da ideia criadora (fruto da scintilla divina, como afirmara Léon Battista Alberti, mas agora com uma raíz neoplatónica) como essência da obra artística, e ao definir «o disegno ou debuxo, raiz de todas as sciencias». Comente, nesse sentido, o seguinte texto do tratado Da Pintura Antigua (1548), quando põe na boca de Miguel Ângelo as seguintes palavras:

«Eu estou seguro, que se no vosso Portugal, Messer Francisco, vissem a fremosura da pintura que está por algumas casas desta Itália, que não poderiam ser tão desmúsicos (incultos, ignorantes) lá, que a não estimassem em muito e a desejassem de alcançar; mas não é muito não conhecerem nem prezarem o que nunca viram, e o que não têm» (Diálogos de Roma).