Andar a pé no frio

9 Maio 2017, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

3º Módulo: O frio dos frios, oceanos, Antárctida

 

Concluímos o visionamento do filme Happy People – A Year in the Taiga de Werner Herzog e Dmitry Vasyokov.

Ainda nos perguntámos se seríamos capazes de viver em Bahktia, a umas centenas de quilómetros do oceano Ãrctico. Pairaram algumas dúvidas acerca da nossa vontade em nos juntarmos por algum tempo aos pescadores e caçadores que, sendo assassinos porque matam, não o são porque esse é o modo da sua sobrevivência. Aprendemos como se prepara um cão para a caça e o tempo médio da sua vida. O frio nestas paragens pode ter uma temperatura de 30º negativos. Ninguém dele se queixa e tudo parece estar preparado para o receber. Roupas quentes e de fibra natural ombreiam com casacos e bonés com abas feitos das peles dos animais mortos. Anda-se de ski e de canoa feitas à mão, anda-se de motoreta eléctrica. Este lugar, esta paisagem não conhecem efeitos de poluição.

A natureza adormece e acorda como sempre o fez. O seu esplender vem das tempestades mas também dos bonançosos nascer e pôr-do-sol. Rios e florestas têm uma existência infinitamente cíclica. A taiga polar exprime-se pelas coníferas que a povoam e se multiplicam como todas as espécies vivenciais. As estações do ano são sempre quatro e contam-se em sequência.

Deixámos para trás pessoas felizes e pusemo-nos a caminho de um outro lugar. Mudaram os protagonistas. Mudou a motivação. Mudou a geografia. Tudo num mesmo continente. Recuámos no tempo e fomos parar ao ano de 1974. O frio, sendo outro menos agreste, não deixou de ser frio. Quem então se fez ao caminho levava dentro de si uma missão e caminhou sozinho.

Deparámo-nos com um novo diário. Antes fizéramos leitura de O Diário das Nuvens de Goethe, um restrito acumular de entradas com instinto e perícia científicos que enquadrámos no nosso estudo sobre nuvens.

Herzog escreve durante três semanas sobre a experiência de se deslocar a pé entre duas grandes cidades da Europa: Munique e Paris. Consigo leva duas motivações essenciais: uma de natureza mágico-sincrética e outra de aprendizagem interior.

 

Leitura recomendada:

HERZOG, Werner, 2011, Caminhar no Gelo, tradução de Isabel Castro Silva, prefácio de Pedro Mexia, Lisboa: Tinta-da-China.

 

http://www.openculture.com/2012/08/portrait_werner_herzog.html

 

Filme visionado:

HERZOG, Werner e VASYUKOV, Dmitry 2010, Happy People – A Year in the Taiga, 94 min., em russo com legendas em inglês.