Andrea Wulf e o seu biografado

4 Abril 2017, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

. 2º Módulo: Montanhas, Vegetações, Vulcões, Cavernas, Desertos

Alexander von Humboldt - um naturalista em campo e o desafio perante experiências-limite - Pontos de vista

 

Perante alguma perplexidade dos alunos face às leituras em curso, em particular, o que ler primeiro e o que ler a seguir, foram dados esclarecimentos no sentido de apoiar os leitores.

Ocupámo-nos a seguir de um único capítulo, o 7º, da obra biográfica de Andrea Wulf, A Invenção da Natureza ~As Aventuras de Alexander von Humboldt, o herói esquecido da ciência. Nesse capítulo encontrámos descrição e comentário de um dos pontos altos da viagem de A. v. Humboldt e que consistiu na subida ao vulcão do Chimborazo no Equador, se bem que em 1802, esse território não fosse ainda independente e estivesse associado ao Reino de Espanha.

Porquê o 7º capítulo da obra mencionada e não outro? Porque decidiramos analisar um acontecimento sob a perspectiva de diferentes autores: A. v. Humboldt, a biógrafa Andrea Wulf e eu própria. Igualmente o facto de esta experiência de escalada científica ter posto em risco a vida do naturalista e as dos seus companheiros tornou-se para nós num motivo de reflexão a propósito das condições adversas que a Natureza desencadeia sobre o ser humano. Lembrámos neste contexto a situação descrita em O Mundo das Nuvens de Gavin Pretor-Pinney que haviamos lido antes e que dizia respeito à travessia de uma Cumulonimbus pelo tenente-coronel William Rankin, quando se deslocava em avião. Comentámos então o que distinguia a acção de A. v. Humboldt da de William Rankin. O primeiro queria aceder ao topo do Chimborazo custasse o que custasse para guardar registo de observações e medições que foi fazendo com vista a um estudo comparado vulcanológico, mas também como desafio à sua própria natureza. O segundo apenas fora apanhado no meio de uma turbulência de nuvens. Apesar desta diferença situacional, ambos experienciaram um acontecimento-limite. Ambos ficaram vivos e diferentes. Ambos ofereceram testemunho a outros de capacidades e vontade próprias treinadas a partir do instinto de sobrevivência.

O que nos interessou ainda neste 7º capítulo do livro de Andrea Wulf? Interessou-nos o estilo da escrita da autora. A precisão das suas informações alternava com a poeticidade da sua escrita. Por exemplo: «O nevoeiro mantinha o pico do Chimborazo num abraço.» (113) Na frase «Humboldt olhava determinadamente em frente.» (113) Como saberia a autora que assim era? Testemunho do próprio? Como olharia ele em frente se caminhava a quatro patas? O que existe de verdade e o que se lhe acrescenta ou se lhe subtrai?

Wulf leu criteriosamente a documentação que Humboldt deixou sobre esta aventura extraordinária (percebemos isso pela informação que ela nos disponibiliza), visitou muitos dos territórios atravessados por Humboldt, esteve no sopé do Chimborazo. Wulf admira intensamente a personalidade genial do seu biografado.

 

Leituras recomendadas:

HUMBOLDT, Alexander von 2007, Pinturas da Natureza – Uma Antologia, selecção, apresentação e tradução de Gabriela Fragoso, posfácio de Hanno Beck, Lisboa: Assírio & Alvim, pp. 21-132.

HUMBOLDT, Alexander von, 1993, Briefe aus Amerika 1799-1804, Ulrike Moheit (ed.), Berlin: Akademie Verlag, pp. 208-214. (para alunos com conhecimento de francês)

MENDES, Anabela | FRAGOSO, Gabriela (ed.) 2008, Garcia de Orta e Alexander von Humboldt – Errâncias, Investigações e Diálogo entre Culturas, Lisboa: Universidade Católica Editora, pp. 69-79.

WULF, Andrea 2016, A Invenção da Natureza – As Aventuras de Alexander von Humboldt, o herói esquecido da ciência, Lisboa: Temas e Debates | Círculo de Leitores, pp. 112-122.

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_von_Humboldt

 

https://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_von_Humboldt