O caráter multifacetado da proposta cinematográfica de Humberto Mauro
6 Outubro 2017, 14:00 • ALVA MARTINEZ TEIXEIRO
Análise da sequência inicial de “Ganga bruta” (continuação). O caráter simbólico e dramático da luz.
Ganga bruta e o cinema de ‘mise-en-scène’: a direção da câmara através da intuição, a conceção não tiránica da montagem e o ritmo interior da montagem. A articulação dos elementos fílmicos de modo a que o fundamento tradicional (a anedota) se integre no organismo visual, num organismo fílmico vivo.
A natureza dissonante do filme: o teor documentar e realista presente na segunda sequência, o diálogo com o western ou as notações erótico-freudianas na montagem metafórica do encontro sexual.
Breve análise do retrato da identidade nacional e da visão crítica da sociedade brasileira: o contraste entre progresso material urbano e o subjacente atraso social – nomeadamente, a hipocrisia moral e o patriarcalismo, representados pelo ambíguo protagonista –; a violência imperante no sertão, condensada na sequência da briga (7.00 -8.06).
A dissonância e a quebra com a montagem discursiva mais convencional. O corte livre em Ganga bruta e o tempo narrativo movido por um ritmo interior progressivamente mais sugestivo.
Análise da função dramática do close-up. A complexidade e ambiguidade da caraterização dos protagonistas.
O cinema nacional no período getulista.
A realização dos filmes “Descobrimento do Brasil” e “Os bandeirantes” e o caráter de propaganda das propostas cinematográficas do Instituto Nacional do Cinema Educativo.
A afirmação do nacionalismo brasileiro e o diálogo com as fontes artísticas e estéticas do romantismo brasileiro. “Descobrimento do Brasil” e a visão da descoberta como ato fundador da nação e da expansão territorial do Brasil. A ligação do filme com os interesses das elites brasileiras: o paralelismo entre a expansão dos fazendeiros do cacau (o mecenato do Instituto do Cacau da Bahia) e a expansão colonial como símbolo do progresso da futura nação brasileira. O retrato parcial e tendencioso da Descoberta como um ‘encontro de culturas’ no filme (26.53 -35.17). A falha fundamental deste filme em termos propagandísticos: o tom melancólico da cinematografia de Mauro e a ausência da dimensão épica no filme “Descobrimento do Brasil” (58.25 – 1.02. 51).
O olhar artisticamente populista promovido pelo getulismo sobre o Brasil: o exemplo paradigmático de Carmen Miranda. O aparecimento de um cinema comercial e carnavalesco.
Links dos filmes:
Ganga bruta
https://www.youtube.com/watch?v=-UHfXmVt1Jk&t=4214s
O Descobrimento do Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=7Yiv34RQgsU
Bibliografia:
GOMES, Paulo Emílio Salles (1974): Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte (São Paulo: Perspectiva).
PEREIRA, Flávia Lago de Jesus (2010): “Cinema à moda brasileira: Ganga bruta e a questão da identidade nacional” in O olho da História, nº 14 in
http://oolhodahistoria.org/n14/artigos/flavia.pdf