Visões sobre o Cinema Musical Inglês dos anos 30

24 Setembro 2015, 16:00 Mário Jorge Torres Silva

O cinema musical como estratégia de escape às complexas condições sociais e económicas na década de 1930, na ressaca da queda bolsista em 1929, nos Estados Unidos: possíveis reflexos no cinema inglês; especificidades do mercado britânico; breves indícios de um contraponto estético e político, presente no surgimento de uma escola de documentarismo, da qual se destaca, historicamente, o nome do cineasta John Grierson.

A inscrição do primeiro filme a estudar, First a Girl, numa tradição do remake, uma vez que se trata de uma segunda versão de um original alemão, Viktor und Viktoria (Reinhold Schunzel, 1933), com a estrela germânica Renate Muller, tendo conhecido outras versões posteriores, nomeadamente a americana que foi protagonizada por Julie Andrews, Victor and Victoria (Blake Edwards, 1982), em que as questões de género e de opção sexual aparecem mais claramente representadas. Visionamento comentado de um excerto de um número musical do original alemão, salientando a importância do cabaret berlinense na sua configuração, bem como a influência decisiva em ambos (de modos diferentes) do musical americano e do estilo Busby Berkeley com os seus caleidoscópios humanos. Visionamento complementar de um número de Palmy Days (Edward Sutherland e Busby Berkeley, 1931), a fim de verificar as origens da imaginação coreográfica.

Início do visionamento comentado de First a Girl (Victor Saville, 1935): a especificidade da indústria cinematográfica inglesa no modo como integra cenários e guarda-roupa numa produção que emula o musical da Warner Bros de forma muito mais discreta e económica; o estrelato indiscutível de Jessie Matthews e a sua relativamente pouca predisposição para funcionar em travesti, até pela sua voz de soprano ligeiro (com um timbre muito semelhante ao de Julie Andrews), sem as cambiantes graves de Renate Muller; a diferença de tradição entre o transformer do teatro inglês e o travesti do cabaret alemão; os problemas morais da mudança de sexo, contornados pela comédia e pelo recurso às constantes citações shakespeareanas; o music-hall vitoriano, com a sua dimensão ecléctica, em que a vertente circense avulta, criando as raízes britânicas para o primeiro número de Victoria, com a intrusão de animais e quedas burlescas em palco.