Sumários
The Long Day Closes (Terence Davies, 1992): os caminhos da nostalgia
17 Dezembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Uma introdução mínima ao cinema produzido nos anos 80, conhecido por anti-thatcheriano, com destaque para fábulas complexas sobre o neoliberalismo reinante como The Angelic Conversation (Derek Jarman, 1985) ou My Beautiful Launderette (Stephen Frears, 1985)
Breves notas sobre o cinema musical americano, nomeadamente o que enquadra a narrativa moderna, nos anos 40 e 50: o cinema popular como matriz de uma revisão quase abstracta de uma memória feita de fragmentos, unificados por citações recompostas, pelas personagens da família, de filmes como Meet Me in St Louis (Vincent Minnelli, 1944) ou de Easter Parade (Charles Walters, 1948); o uso de temas musicais de filmes como "Tammy" de Tammy and the Bachelor (Joseph Pevney, 1957)
Conclusão do visionamento comentado de The Long Day Closes (Terence Davies, 1992): a inserção de momentos encenados ao pormenor do real do jovem protagonista em situações distintas na escola, na igreja e em casa, com a miragem do cinema enquanto referente obsessivo; a montagem fragmentária e o uso do plano fixo como elementos fulcrais da estratégia narrativa; a glorificação do proletariado inglês, sempre apresentado com extrema dignidade; o filme como hipótese de meditação transposta sobre os tempos negros do governo de Margaret Thatcher, "o longo dia que se fecha" do título original.
Terence Davies: a nostalgia da infância e cinema proletário pós-modernista
15 Dezembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Breve introdução ao cinema pós-modernista de Terence Davies: a concepção de um musical pobre com restos de melodias e memórias de um mundo encantado da infância; a oposição clara à estética miserabilista da componente mais radical e ortodoxa do free cinema do início dos anos 60; a memória da infância e a sua conversão em espectáculo, embora sempre fazendo funcionar os flashbacks como modos de dignificar a classe trabalhadora a que o cineasta orgulhosamente pertence.
Início do visionamento comentado de The Long Day Closes (Terence Davies, 1992): uma Liverpool mais sonhada do que reconstituída; a infância rememorada a partir de fragmentos de cinema - canções, luzes, reflexos no protagonista que se vai transformando ao longo dos anos, usando três jovens actores; as ligações possíveis com o cinema em cantado de Jacques Demy, nomeadamente emulando algumas das estratégias narrativas de Jacquot de Nantes (Agnès Varda, 1991), uma estranha aventura (auto)biográfica.
"If" (Lindsay Anderson, 1968) e as revoltas do final dos anos 60
10 Dezembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Conclusão do visionamento comentado de If (Lindsay Anderson, 1968): as coordenadas autobiográficas e a sua transformação numa radical fábula revolucionária; os confrontos geracionais, tanto entre os alunos da instituição, quanto (e sobretudo) entre estes e os tutores, professores, pais ou autoridades eclesiásticas; a construção em capítulos; o lado aleatório da alternância entre o uso da cor e do preto-e-branco, na base de um filme formalmente desafiador das convenções políticas e estéticas; a concentração da acção no espaço claustrofóbico da escola; a função fundamental da sequência em que se rompe a unidade de espaço, saindo para os campos e propiciando o encontro do protagonista com a personagem feminina que vai introduzir no filme alguns dos traços eróticos mais perturbantes - o amor-tigre; a relevância icónica dos recortes de jornais e revistas colados nas paredes, trazendo para a ficção o revolucionário imaginário gráfico dos anos 60 - cenas de guerra, líderes de esquerda ou fotos de cariz mais ou menos escatológico; a função ritual da música - o Sanctus da africana Misa Luba; o filme e a construção de uma visão surrealizante, rara no imaginário britânico; o epílogo suspensivo e as contradições da revolta de um pequeno grupo contra o status quo.
A evolução do "Free Cinema" e a contestação das instituições
3 Dezembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
A figura central de Lindsay Anderson, enquanto ideólogo do free cinema e um dos iniciadores do movimento, sobretudo numa primeira fase, em que assinou alguns dos documentários e curtas-metragens - O Dreamland, 1953, Every Day Except Christmas, 1957 - , ainda hoje considerados como uma espécie de manifesto de uma forma revolucionária de reformular o cinema inglês: a evolução de uma longa perfeitamente integrável no movimento, This Sporting Life (1963) para filmes mais surrealizantes, traçando uma visão irrisória da Inglaterra que vai levar ao consulado catastrófico de Margaret Thatcher, metáforas mortíferas de um país a atacar a sua tradição de estado social - O Lucky Man! (1973) ou Britannia Hospital (1982).
Início do visionamento comentado de If... (Lindsay Anderson, 1968): a primeira grande metáfora da contestação a um estado repressivo, sob a representação de uma revolta estudantil contra os maus tratos infligidos numa public school, um dos sustentáculos ideológicos da Coroa e do Império; a premonição dos conflitos de Maio de 1968, em França, a importância da escola privada como microcosmos incongruente, em inexorável desaparição; o inesperado sucesso comercial e a Palma de Ouro em Cannes; Malcolm McDowell e a encarnação do herói insolente e violento, disposto a destruir o mundo que se configura na Igreja e nas autoridades académicas; a homossexualidade de Anderson e o olhar subversivo sobre a sexualidade reprimida, bem como sobre uma nova liberdade sexual patente nas relação dos três heróis do filme.