"A Taste of Honey" (Tony Richardson, 1961): para uma renovação da estética cinematográfica britânica

24 Novembro 2015, 16:00 Mário Jorge Torres Silva

Tony Richardson e uma particular concepção do free cinema, evoluindo de uma clara ligação a um realismo militante e excessivo, para uma mais recuperável visão comercial do cinema, culminando muito cedo numa adaptação literária de grande sucesso internacional (inclusive premiada com quatro óscares da Academia de Hollywood, incluindo melhor filme e melhor realizador), Tom Jones (1963), embora concebendo a reconstituição histórica com meios relativamente modestos, aparentemente ainda consentâneos com as premissas ideológicas do movimento.

Conclusão do visionamento comentado de A Taste of Honey (Tony Richardson, 1961): a importância de apresentar a protagonista com o rosto comum e feioso de Rita Tushingham, uma espécie de anti-estrela; a clara evidência da origem teatral do filme, adaptando a primeira peça (homónima) de uma jovem dramaturga, Shelagh Delaney - a relevância dos diálogos e dos cenários interiores tratados de forma algo analógica ao palco; a filmagem em locais reais, tendente a conferir ao filme uma imensa ligação ao real quotidiano das classes trabalhadoras que retrata; a saída para fora e até para fora de Londres, colocando os subúrbios das cidades industriais do Norte de Inglaterra - no caso vertente, Salford e Manchester - em relevo; o destaque dado à sequência do porto e dos estaleiros, integrado numa estética muito marcada de poetizar a pobreza e a degradação de condições de vida (lagos artificiais estagnados, ruínas industriais, dejectos químicos) numa tentativa muitas vezes atacada, anos depois, de dar uma aparência documental a uma vida quotidiana mais encenada do que real; o pessimismo reinante e as contradições de um epílogo que salienta o desespero dos jovens protagonistas.