Um olhar complexo e estrangeirado sobre a "swinging London" dos anos 60
26 Novembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Michelangelo Antonioni e os caminhos do cinema moderno: a superação do neo-realismo pela análise complexa da individualidade das personagens; um cinema da incomunicabilidade, reformulando a relação metafísica entre a figura humana e o espaço arquitectónico e urbano; o tédio e o desassossego como marca da dificuldade das personagens no mundo; os silêncios e os vazios integrados numa estética da alteração de equilíbrios entre o elemento humano e a selva de betão que limita a modernidade; a procura do indizível e o olhar expectante sobre as possibilidade da não-representação; para uma metafísica do simulacro.
Início do visionamento comentado de Blow-Up (Michelangelo Antonioni, 1966): a deslocação do olhar do cineasta para um mundo desconhecido e misterioso - a Londres dos anos 60, inquieta e convulsa; a fotografia enquanto fixação do real e enquanto fingimento de uma objectividade aparente; o logro da intervenção social imediatista; o fotógrafo como metáfora (e duplo) do cineasta; a cidade entre a deambulação (quase peripatética) e a ameaça das ilusões ocultas por detrás da técnica (fotográfica e fílmica); o cinema e a moda; o preenchimento dos interiores e o geometrismo das formas, criando uma radical interrogação sobre a função da arte e do amor; a inclusão quase pretextual (uma forma tortuosa de citar o McGuffin hitchcockiano de uma intriga policial, próxima do thriller, embora tornada abstracta pela interrogação profunda sobre a credibilidade do indício.