First a Girl (Victor Saville, 1935) e a tradição do musical britânico
29 Setembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Conclusão do visionamento comentado de First a Girl (Victor Saville, 1935): o modo como a emigração de técnicos e actores da Alemanha nazi influi na configuração do filme, pela relação oblíqua com o musical germânico; Shakespeare em filigrana na deposição ideológica detectável nos diálogos do filme - as múltiplas citações do bardo de Stratford a pontuarem as mudanças essenciais de registo da personagem de Victor; a "comédia de enganos" na raiz da construção do enredo do filme; a função da elipse na narrativa enquanto marca de uma economia fulcral de um filme parcimonioso; os limites dos modos de produção de um cinema com poucos meios, como o cinema inglês; Victor Saville, o administrador de um projecto concebido para um fenómeno de popularidade como Jessie Matthews, sobretudo depois do enorme sucesso internacional de Evergreen (Saville, 1934); o quarteto amoroso e as suas mudanças na lógica "sexual" do filme; as alusões de homossexualidade e a sua complexificação de modo a favorecer a recomposição dos pares; os elementos burlescos do número musical de Sonnie Hale, no final; a função complexa do papel da princesa Mironoff no jogo de afectos que a película encena; o escapismo particular de uma ficção musical num período muito complicado da História da Europa, na eminência de uma Guerra com a Alemanha nazi.