"The Man in Grey" (Leslie Arliss, 1943) - melodrama e o imaginário vitoriano revisitado
20 Outubro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Conclusão do visionamento comentado de The Man in Grey (Leslie Arliss, 1943): a relevância reflexiva do filme, apesar das suas aparentes fragilidades; um olhar interessante e mais profundo do que parece ser sobre as contradições de classe, de género e de identidade num período mais extenso do o que aparece retratado - uma espécie de vitorianismo mítico que se entrevê antes da rainha Vitória e que vem até ao presente do filme, com as suas coordenadas de sexo, poder e repressão difusamente definidas; a atracção do flashback, criando no espectador moderno um misto de nostalgia e de adesão às peripécias mais rocambolescas; a intrusão de uma representação oitocentista de William Shakespeare (de um Othello amador e quase caricatural) como caução popular da high culture, tornando o filme um fascinante olhar sobre as oscilações de gosto; o swashbuckler e a emergência de uma visão estereotipada sobre a masculinidade oitocentista e sobre as relações de poder que a grande cultura por vezes esbate; o epílogo e o regresso ao presente da guerra, invocando uma espécie de onirismo involuntário; o lado emblemático dos Gainsborough Melodramas e a sua recuperação moderna; o estabelecimento definitivo de actores como James Mason, Margaret Lockwood, Corinne Calvet ou Stewart Granger enquanto estrelas de projecção internacional, abrindo inclusive para carreiras em Hollywood.