"Drácula" (Terence Fisher, 1958): um cinema de terror a cores, popular e sexualizado
17 Novembro 2015, 16:00 • Mário Jorge Torres Silva
Brevíssima história dos estúdios da Hammer, sobretudo no período que medeia entre 1955 e 1974, destacando a relação privilegiada da produtora com o horror movie, basicamente iniciada com The Curse of Frankenstein (Terence Fisher, 1957), mas refazendo de um modo muito original as grandes figuras do panteão da Universal (do Lobisomem à Múmia, sem descurar a força icónica de Frankenstein ou Drácula), com incursões por outros universos britânicos como o de Arthur Conan Doyle ou, até, por segmentos mitológicos da Antiguidade (como em The Gorgon, Fisher, 1964): a centralidade de Terence Fisher como realizador culto e minucioso, embora propiciando a proliferação de outros jovens (ou não) directores, transformando, por vezes, o produto em algo de bastante menos distinto e mais grosseiro de métodos e visualidades.
Conclusão do visionamento comentado de Drácula (Terence Fisher, 1958): a decisiva relevância de um actor como Christopher Lee, com uma figura e uma distinção inigualáveis na encarnação da personagem, sobretudo insistindo numa voz bem timbrada e numa dicção perfeita, o que irá marcar todas as futuras releituras do mito; a inclusão do outro grande nome da Hammer, Peter Cushing, associado às variações sobre cientista tresloucado da série de Frankenstein, mas aqui na personagem do oponente, Van Helsing; a fidelidade básica ao espírito do universo literário de Bram Stoker e as muitas infidelidades à letra, alterando espaços geográficos ou variando sobre caracterizações de personagens; o filme como matriz perfeita para o sistema de sequelas que se antecipavam já; a mudança dos parâmetros críticos em relação a um produto muitas vezes escarnecido como fácil e simplista e, hoje, considerado como mítico e representativo de um gosto e de uma visão moderna do terror; o epílogo e os símbolos astrológicos, enquanto marca de uma codificação que vai permanecer (tal como uma certa capacidade de reflectir sobre o cinema dentro do cinema) em revisões bem mais prestigiosas do mito, como Drácula (1992) de Francis Ford Coppola.