"Leave Her to Heaven" (John M. Stahl, 1945) e a criação do melodrama cinematográfico moderno
13 Outubro 2015, 14:00 • Mário Jorge Torres Silva
A importância de John M. Stahl na sedimentação do melodrama como género maior, nos anos 30, na Universal, o estúdio dos mais paradigmáticos filmes de terror: a relação incontornável com Douglas Sirk que, nos anos 50, refez e coloriu três dos seus filmes mais sintomáticos - Imitation of Life (1934), Magnificent Obsession (1935) e When Tomorrow Comes (1939); a especificidade de Stahl no rigor da mise-en-scène, estilizando escadas, janelas, portas e todas as marcas de decoração interiores enquanto elementos dramáticos.
Início do visionamento comentado de Leave Her to Heaven (John M. Stahl, 1945): o lado amoral da trama e as coincidências forjadas com a tragédia; a preponderância do uso da cor como elemento dramático fulcral; o clímax melodramática na sequência do afogamento cunhado, filmado com um virtuosismo novo, determinante de tensões ainda por vir; o romantismo exacerbado das sequências da Nova Inglaterra, lembrando o universo codificado (e gótico) das irmãs Brontë; o triângulo amoroso e a inscrição da morte como motor da acção; a charneira com a soap opera, nas peripécias que conduzem ao suicídio programado; o melodrama e o filme-de-tribunal, na confluência com o noir; a paisagem como elemento excessivo e apaziguador.