O Musical Cinematográfico e a lógica escapista em tempos de Grande Depressão

24 Setembro 2015, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

Brevíssima introdução à carreira de Lloyd Bacon, no período que antecede o advento do Sonoro: desde a sua colaboração como actor nos filmes de Charlie Chaplin (nomeadamente The Kid, 1921), até às primeiras realizações durante a década de 1920 (com curtas-metragens, desde 1922), assinando a sua primeira longa-metragem, Broken Hearts of Hollywood, em 1926. A importância capital dos dois musicais dirigidos para a Warner em 1933, 42nd Street e Footlight Parade, incorporando coreografias de Busby Berkeley, imagem de marca incontornável dos musicais cinematográficos da Warner Bros, com top shots e grande mobilidade da câmara.

Visionamento comentado de um excerto de Footlight Parade, o número musical "By a Waterfall", paradigma possível das coreografias berkeleyanas, misto de tratamento excessivo do trabalho de câmara e de fantasia surrealizante (um "sonho húmido"). Primeira análise breve da alternância entre picado e contrapicado no estabelecimento de uma básica linguagem cinematográfica de delimitação espacial.

Visionamento comentado do início do filme 42nd Street: a noção de plano e de sequência, na organização narrativa de uma comédia dramática à volta das artes de palco; o enquadramento de grandes massas humanas nas cenas de ensaios do coro; a virtual oposição entre vedeta e corista; para uma primeira definição da personagem isolada e solitária do encenador; o encadeamento das peripécias num filme musical que vai estrategicamente adiando os grandes números musicais; a presença obsessiva da Grande Depressão nos diálogos e no comportamento das personagens, embora de forma algo subtil, o ritmo fílmico e um primeiro olhar sobre as diferentes formas de raccord entre planos - do dissolve ao fade out/ fade in, bem como sobre a alternância clássica campo/contracampo.