Alfred Hitchcock do "thriller" ao terror
3 Dezembro 2015, 14:00 • Mário Jorge Torres Silva
Breves considerações sobre a longa carreira cinematográfica de Alfred Hitchcock, sobretudo a partir de 1940, quando se desenrola no interior da indústria, em Hollywood: do gótico de Rebecca (1940) ao divertimento auto referencial de North by Northwest (1959), passando pela dimensão meta-cinematográfica de Rear Window (1954) ou pelas complexidades psicanalíticas de Vertigo (1958); o aprofundamento do thriller, criando o efeito de suspense sobretudo a partir do quando e como se resolve a peripécia, não funcionando enquanto interrogação sobre quem comete a infracção, numa inversão de expectativas da crime story, em que o espectador tem papel interveniente; o mcguffin como pretensa pista pretextual; o tema quase obsessivo do "falso culpado"; a recepção da crítica francesa dos anos 50, transformando-o num indiscutível autor e não num criador industrial de best-sellers.
Início do visionamento comentado de Psycho (Alfred Hitchcock, 1960): a insistência inesperada no efeito da surpresa final como motor da acção, criando uma gigantesca campanha publicitária para impedir que se quebrasse tal efeito; a importância da fotografia a preto-e-branco para emular a série B e os clássicos de terror dos anos 30; a integração do gótico na presença ameaçadora da casa fantasmagórica; a possível divisão do filme em duas partes, cedo matando a protagonista; o virtuosismo de montagem e de pluralidade de planos na sequência fulcral do chuveiro; o acentuar de coordenadas sexuais e escatológicas, desde o arrojo da sequência inicial, desafiando o código Hays no que respeitava ao adultério explícito até às sugestões de homossexualidade de Norman Bates, passando por pormenores como a placa do carro com as letras ANL (leia-se anal) ou furo na parede do escritório, propiciando o voyeurismo da protagonista que se despe na cabina do lado, ou ainda a filmagem (pela primeira vez numa grande produção hollywoodiana) de um picado sobre uma sanita aberta.