"Psycho" (Alfred Hitchcock, 1960): uma grande viragem no "horror movie" enquanto género

10 Dezembro 2015, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

Brevíssima introdução ao Horror Movie, desde os monstros do Expressionismo Alemão, desde sempre altamente influente na obra de Hitchcock, até à fase de ouro do cinema americano nos estúdios da Universal dos Anos 30, passando pelo gótico literário (e cinematográfico) que marca filmes como Rebecca  (1940) ou Under Capricorn (1949). A concepção de Psycho como uma viragem temática e estilística, de certo modo antecipando um novo género (ou melhor, um subgénero), o slasher , que vai sobretudo emergir nos anos 70, com filmes como The Texas Chain Saw Massacre (Tobe Hooper, 1974) ou Halloween  (John Carpenter, 1978), centrado assassino em série, basicamente apresentado como um psicopata.

Conclusão do visionamento comentado de Psycho (Alfred Hitchcock, 1960): a definição do assassino como um perturbado psicopata, obcecado com imagem castradora da mãe, de cuja morte violenta foi responsável, resultando na criação de uma dupla personalidade que não distingue o real da loucura; a plural utilização de pormenores macabros (de origem longínqua nos excessos do Grand Guignol) como esqueletos, formas coleantes deixadas na cama, perucas, o brandir de punhais, caves e, sobretudo, a grande mansão estereotipada, como ameaça surda, por detrás do motel; a utilização criteriosa de uma banda sonora, para orquestra de cordas, sublinhando a angústia das peripécias e subindo de tom nos momentos mais ameaçadores; os pássaros empalhados como metáforas de morte tornada presença; a dimensão explicativa do final, datando um pouco a relação do filme com uma visão escolar e limitada do uso da psicanálise em cinema; a passividade de John Gavin na segunda personagem masculina e a força de Vera Ellen (a irmã da vítima, interpretada por Janet Leigh), conferindo-lhe perturbantes configurações masculinizadas (dimensão que o remake / palimpsesto de Gus Van Sant, de 1998 tornará mais clara); Tony Perkins e o duplo papel de filho e travesti da mãe, demarcando uma especialização que ficará doravante ligada à sua persona de actor.