"Ruby Gentry" (King Vidor, 1952): para uma revisão complexa do gótico sulista americano

10 Novembro 2015, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

Breve referência à tradição gótico sulista, algures entre as fantasias macabras de Edgar Allan Poe e as irreprimíveis pulsões sexuais das heroínas de William Faulkner, destabilizando o mundo à sua volta e criando uma força telúrica que gera e destrói, em simultâneo. a construção de um território perturbante feito de névoas, florestas e pântanos, de ciúmes e de incontroláveis paixões sem freio, nem limites; a natureza luxuriante engolindo as personagens no seu seio misterioso e lascivo.

Conclusão do visionamento comentado de Ruby Gentry (King Vidor, 1952): os amores e desamores à margem das regras sociais e do estabelecimentos de fronteiras identitárias; o homem como vítima e como perpetuador de uma antiga submissão; o incesto e as perversões enquanto desafio ao establishment; o amor louco como motor de um desejo de posse que não se compadece com barreiras de classe ou de sexo; eros e thanatos, a grande dicotomia geradora de forças sobrenaturais que tudo dominam; a impossibilidade de sustentar uma narrativa que seja, também ela, autodestrutiva e torrencial como os fumos que exalam da terra; Charlton Heston no seu primeiro grande papel, ao mesmo tempo, de homem másculo e de vítima de uma emasculação final por intervenção do feminino carnívoro e mortal.