"Slightly Scarlet" (Allan Dwan, 1956): o "film noir" a cores.

1 Dezembro 2015, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

Para uma breve súmula das características do film noir: um herói complexo e ferido, uma femme fatale responsável pela perdição do protagonista, enleada nos seus próprios jogos de sedução; a agilidade dos diálogos, ardilosos e de duplos sentidos; o perigo espelhado nas sombras e na ocultação dos objectivos; uma acção mais sujeita às regras de criação de uma atmosfera opressiva do que à espectacularidade das peripécias ou da violência exposta; a importância das elipses significativas; a fotografia sombria em contrastado preto-e-branco; a predominância de uma angústia indizível quew quase dissolve as personagens num friso trágico de espectros.

Conclusão do visionamento comentado de Slightly Scarlet (Allan Dwan, 1956): a evolução do herói, dando-lhe progressivamente uma aura trágica de vítima das circunstâncias; a genial ideia de desdobrar a mulher fatal em duas irmãs, entregando as personagens a duas actrizes ruivas, Rhonda Fleming e Arlene Dahl, cuja semelhança física contribui para a complexidade do artifício; o noir a cores - a construção das sombras na fotografia em cuidado technicolor de John Alton,, com o negro projectado nos rosas, verdes e laranjas; a brilhante iluminação de interiores; a transformação de um romance menor de James M. Cain (mestre da hard-boiled novel) num inventivo e original guião; o ambíguo final, deixando em suspenso a presumível morte do herói maculado, parcialmente dobrado de vilão.