Uma leitura de Heinrich von Kleist Professores Pedro Florêncio e Sérgio Mascarenhas
5 Abril 2021, 14:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
ABRIL 2 ª FEIRA 10ª AULA
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ESPETÁCULO E COGNIÇÃO: UMA LEITURA DE HEINRICH VON KLEIST
Sérgio Mascarenhas, 5 de abril de 2021
A sessão do seminário foi dedicada à apresentação de vários textos de Heinrich von Kleist.
Começámos com o seminal “Sobre o teatro de marionetas”. Destacaram-se os seguintes pontos:
· Intervenção contrastante de duas vozes, a do narrador e a do seu interlocutor, o Senhor C. Entre ambas, onde se situa a voz do autor?
· Decomposição do texto nas várias etapas do diálogo: intervenção inicial de C sobre o teatro de marionetas; intervenção do narrador em torno do jovem perante o espelho; intervenção de C sobre o confronto com o urso; conclusão. Como se articulam estas micronarrativas entre si?
· A linha de força do texto: a graciosidade como movimento físico / ação não condicionada pela reflexão, evitando-se assim a sua afetação. É esta uma questão relevante para a prática artística?
· As opções finais do texto – corpo destituído de espírito ou corpo e espírito divinos – são viáveis como opção para o artista? Ou representam um impasse sem solução?
Procurámos identificar outras instâncias em que Kleist coloca a mesma questão de fundo explorada em “Sobre o teatro de marionetas”. Verificámos que esta questão está presente nas suas reflexões sobre poesia, pintura, história, argumentação (política, jurídica).
Identificámos três possíveis alternativas presentes na reflexão de Kleist para a saída do impasse acima enunciado, alternativas consistentes entre si:
· Reconfiguração da articulação entre ação e reflexão, cf. “Da reflexão”, em tais termos que a última não interfere com a primeira quando esta ocorre.
· Valorização da graciosidade presente na obra imperfeita, não se exigindo assim a graciosidade total, cf. “Um princípio da crítica superior”.
· Libertação da ação pela firmeza do espírito em movimento (coragem, convicção), num processo de pensamento onde fim e percurso não são pré ordenados pela reflexão, antes se vão desdobrando no processo dialógico entre humanos, cf. “Sobre a gradual elaboração dos pensamentos no discurso”.