O QUE É O HOMEM? Introdução à Antropologia Filosófica / Conferência de Abertura do Ano lectivo 20 de Outubro de 2017

20 Outubro 2017, 10:00 Adriana Veríssimo Serrão

O QUE É O HOMEM? Introdução à Antropologia Filosófica / Conferência de Abertura do Ano lectivo

 

(alguns textos que podem servir para as nossas aulas)

 

 “toda a asserção sobre o homem implica sempre uma afirmação sobre si mesmo, o que significa uma afirmação deste homem na sua situação. Toda a vida humana seria, por isso, hermenêutica em si mesma.”

(Wilhelm Dilthey, Gesammelte Schriften 7, 4ª ed. 1965, p. 279).

 

 

"A visão do homem (Mensch-Anschauung) reflecte-se involuntária e voluntariamente em tudo o que pensamos, fazemos e produzimos. Todos os domínios culturais de um povo e de uma época contêm uma auto-com­preen­são humana não expressa e multi-fragmentada, uma ´antropologia implícita’, como se poderia dizer, e têm nela um dos aspectos de­ter­minantes da sua configuração. Cada filosofia deixa-se circunscrever em uma antropologia."

Michael Landmann, De Homine, Der Mensch im Spiegel seines Gedankens, Problemgeschichte der Wissenschaft in Dokumenten und Darstellungen, Freiburg / München: Orbis Academicus, 1962, pp. XI-XII.

 

“O mais útil e o me­nos avan­çado de todos os co­­­nhe­ci­mentos humanos parece-me ser o do homem”.

J.-J. Rousseau, Dis­curso sobre a de­si­gualdade, de 1755; Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes; Oeuvres Complètes, Paris: Seuil, 1971, vol. 2, p. 208.

 

 “Todos os progressos na cultura, mediante os quais o homem faz a sua formação es­colar, têm o propósito de usar esses conhecimentos soltos [Kenntnisse] e aptidões adquiridos para o uso do mundo, mas, neste mundo, o objecto mais im­portante a que ele os pode apli­car é o homem, pois ele é o seu próprio fim último.”

Kant, An­tro­po­logia numa abor­dagem pragmática / Anthropologie in pragmatischer Hinsicht, Prefácio.

 

 

“Não há problema filosófico cuja solução reclame o nosso tempo com mais peculiar premência do que o problema de uma antropologia filosófica.” Pela qual entende “uma ciência fundamental da essência e da estrutura essencial do homem”, compreendendo: a relação com os reinos da natureza; da sua origem metafísica e do seu início físico no mundo; das forças e poderes que movem o homem e o homem move; das direcções e leis fundamentais da sua evolução (biológica, psíquica, histórico-espiritual e social; das suas possibilidades e das suas realidades. Este ambicioso projecto forneceria “um fundamento filosófico último” que daria um rumo às investigações científicas dispersas sobre o objecto “homem”. Ora, a falta de uma perspectiva unitária não decorre somente de uma dispersão epistemológica … . Ela marca, pela primeira vez na História, uma total falta de consciência de si, de saber de si.

“Ao cabo de uns dez mil anos de “História”, a nossa época é a primeira em que o homem se tornou plena, inteiramente ‘problemático’; já não sabe o que é, mas sabe que não o sabe.”

Max Scheler, “Mensch und Geschichte”, Die Neue Rundschau, Berlin 37 (1926); Gesammelte Werke. Späte Schriften, Bern und München: Francke Verlag, 1976, Bd.9, 120-144; trad. espanhola in El porvenir del Hombre, La Idea del Hombre y la Historia (pp.19-52), El puesto del Hombre en el Cosmos, Buenos Aires / México: Espasa-Calpe, 1942.

 

 

 

“Contudo, a todas as tentativas de alcançar uma tal ciência bem fundamentada opõem‑se consideráveis dificuldades que pertencem à própria natureza humana:

1. O homem que nota que o observam e o tentam examinar parecerá em­­­­ba­raçado (in­­­como­dado) e, nesse caso, não pode mostrar‑se tal como é; ou então dis­simula‑se, e com isso não quer ser conhecido tal como é.

2. Mas se quiser examinar‑se a si mesmo, sobretudo no que diz respeito ao seu es­­tado em situação de afecção, chega a uma situação crítica que ha­bi­tualmente não per­­mite nenhuma dis­simu­lação, a saber: quando os móbiles estão em acção, ele não se ob­serva, e quando se observa, os móbi­les são neutralizados.

3. Quando são duradouras, as circunstâncias de lugar e de tempo provocam há­bi­tos, que, como se costuma dizer, são uma segunda natureza e dificultam o juízo do ho­mem sobre si mesmo, sobre o que deve pensar de si, mas mais ainda sobre o conceito que deve fazer de um outro homem com quem está em re­lação; com efeito, a alteração da situação em que o homem está colocado pelo seu destino ou que ele, como aven­tu­reiro, também coloca a si mesmo, torna muito difícil à Antropo­logia elevar‑se ao estatuto de uma ciência estrita.”

Kant, An­tro­po­logia numa abor­dagem pragmática / Anthropologie in pragmatischer Hinsicht, Prefácio.

 

 

 

1) Was kann ich wissen? - “O que posso saber?",

2) Was soll ich tun? - "O que devo fazer?",

3) Was darf ich hoffen? - "O que me é lícito esperar?

4) Was ist der Mensch?" - O que é o Homem?"

 

Der erste Frage beantwortet die Metaphysik, die zweite die Moral, die dritte die Religion, und die vierte die Anthropologie. Im Grunde könnte man aber alles dieses zur Anthropologie rechnen, weil sich die drei ersten Fragen auf die letzte beziehen.”

À primeira pergunta responde a Metafísica, à segunda a Moral, à terceira a Religião e à quarta a Antropologia. No fundo, poder-se-ia contar tudo isto como Antropologia, uma vez que as três primeiras questões se referem à última ".

Kant, Logik, A 25.