Um poema de Eugénio de Andrade

2 Abril 2020, 10:00 Isabel Maria da Cunha Rosa Fernandes

Caros Estudantes,

 

Partilho convosco mais um poema, neste caso, da autoria de Eugénio de Andrade (1923-2005), que fala da importância da palavra e da escuta, num tempo difícil, em que muito se fala e se escreve, mas em que faltam por vezes palavras que, sem quererem “salvar o mundo” ou “mudar o sentido da vida de alguém”, podem ainda assim ser: “a casa, o sal da língua”.

 

O sal da língua

 

Escuta, escuta: tenho ainda

Uma coisa a dizer.

 

Não é importante, eu sei, não vai

salvar o mundo, não mudará

a vida de ninguém – mas quem

é hoje capaz de salvar o mundo

ou apenas mudar o sentido

da vida de alguém?

 

Escuta-me, não te demoro.

É coisa pouca, como a chuvinha

que tem vindo devagar.

são três, quatro palavras, pouco

mais. Palavras que te quero confiar,

para que não se extinga o seu lume,

o seu lume breve.

 

Palavras que muito amei,

que talvez ame ainda.

Elas são a casa, o sal da língua.

 

Eugénio de Andrade

Desejo a todos um dia feliz que saibam aproveitar!

Cuidem-se!

 

Isabel Fernandes