1 Outubro 2021, 14:00
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António José Teiga Zilhão
Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Sentido e Denotação (Ueber Sinn und Bedeutung) de 1892 - 2
A) Distinção entre denotação, sentido e representação. Esta distinção corre paralela à distinção estabelecida por Frege entre diferentes dimensões ontológicas: enquanto que a denotação e o sentido de termos ou frases são entidades que pertencem a dimensões ontológicas objectivas e não mentais (empíricas ou abstractas), como objectos, físicos ou abstractos, ou pensamentos, as representações são entidades que pertencem a uma dimensão subjectiva e mental, i.e., são os conteúdos mentais suscitados de modo privado em cada um em associação com o seu contacto com a denotação e o sentido dos termos e frases. B) Aplicação da distinção sentido/denotação a frases afirmativas completas: o sentido de uma frase afirmativa completa é um
pensamento; a denotação de uma frase afirmativa completa é um
valor de verdade. C) Distinção entre uso cognitivo e uso artístico de uma língua: no primeiro caso, as frases declarativas completas têm sentido e denotação; no segundo caso, as frases declarativas completas apenas têm sentido mas não têm denotação. D) Justificação da tese de que a denotação de uma frase declarativa completa seria um valor de verdade: 1. A consideração de que a denotação de uma frase é um valor de verdade permite salvaguardar o princípio leibniziano de que a substituição de termos co-denotativos numa frase declarativa completa não afecta o valor de verdade da mesma; 2. A consideração de que a denotação de uma frase declarativa completa é um valor de verdade permite salvaguardar a composição funcional de frases complexas, i.e., quando uma frase complexa contém outras frases como seus constituintes, a substituição destas por frases que denotam o mesmo valor de verdade permite salvaguardar o valor de verdade da frase complexa. E) A conjunção das teses de que frases declarativas completas têm uma denotação e de que a mesma seria um valor de verdade tem duas consequências contra-intuitivas: 1. A de que todas as frases verdadeiras têm a mesma denotação - o Verdadeiro; 2. A de que frases declarativas completas seriam, na realidade, nomes próprios de valores de verdade. F) Estas consequências devem, todavia, ser consideradas em associação com o princípio do contexto: de acordo com o mesmo, um juízo deve ser visto não como uma composição construída a partir de partes independentes e subsistentes por si, mas antes como uma decomposição retrogressiva do Verdadeiro nas partes constituintes de um sentido que o captura. G) Consideração de excepções à tese geral de que a denotação de uma frase declarativa completa seria um valor de verdade: nos casos nos quais uma frase declarativa completa contém outra frase declarativa completa como sua parte constituinte, a qual pretende dar conta de o que foi proferido por outrem, esta frase constituinte encontrar-se-á ou no discurso directo ou no discurso indirecto; no primeiro caso, a sua denotação é outro objecto que não um valor de verdade, a saber, uma
frase, nomeadamente, a frase que nela se encontra indicada entre aspas; no segundo caso, a sua denotação é um
pensamento, nomeadamente, o pensamento expresso na frase proferida originalmente
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