II. Sobre Sentido e Denotação - 4

8 Outubro 2021, 14:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Sentido e Denotação (Ueber Sinn und Bedeutung) de 1892 - 4 


I. Continuação da análise da questão: Será a denotação de uma oração subordinada no contexto de uma frase complexa sempre um valor de verdade? 

A) Análise da questão acima no caso das orações subordinadas condicionais. Divisão deste caso em dois sub-casos distintos: a) O caso das frases condicionais que não contêm qualquer termo singular determinado. Neste caso, estas frases têm como função exprimir generalidade (por exemplo, nómica) e apenas a frase no seu todo exprime um pensamento, não o fazendo as orações constituintes; estas orações não denotam então quaisquer valores de verdade; há que notar, a este respeito, que muitas frases de aparência gramatical substantiva ou adjectiva são, na realidade, frases condicionais usadas para exprimir generalidade; b) O caso das frases condicionais nas quais ambas as orações constituintes, subordinante e subordinada, contêm um termo singular determinado. Neste caso, estas frases são frases condicionais genuínas e ambas as orações que as compõem exprimem pensamentos completos; ambas as orações denotam então valores de verdade e o valor de verdade da frase condicional completa obtém-se por composição verofuncional a partir dos valores de verdade das orações constituintes. B) Análise da questão acima no caso das orações subordinadas conjuntivas e de alguns tipos de orações subordinadas concessivas: nestes casos, as orações subordinadas têm um pensamento completo como sentido; elas denotam, por isso, um valor de verdade; também aqui o valor de verdade da frase completa se obtém por composição verofuncional a partir dos valores de verdade das orações constituintes. C) Análise de casos de difícil decisão: estes são ou aqueles nos quais, além do pensamento que prima facie exprimem, as orações subordinadas estão também associadas a pensamentos colaterais, não sendo claro se estes fazem ou não parte do sentido da frase completa; ou aqueles nos quais as orações subordinadas desempenham, em simultâneo, dois papéis semânticos, estando, nomeadamente, associadas a duas denotações, uma directa (um valor de verdade) e outra indirecta (um pensamento). 


II. A conclusão do ensaio SSeD 

A conclusão de SSeD constitui-se como uma recapitulação da solução de Frege para o enigma da identidade - no estabelecimento de uma relação de identidade do género 'a=b', apesar de ser condição da verdade da frase que exprime a identidade que os termos partilhem a mesma denotação, estes não deixam, por isso, de diferir no seu sentido; esta diferença de sentido permite, por sua vez, explicar por que é que o estabelecimento de uma identidade pode conter um valor cognitivo genuíno e fecundo.