III. Sobre Conceito e Objecto - 1

11 Outubro 2021, 17:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege Sobre Conceito e Objecto (Ueber Begriff und Gegenstand) de 1892 - 1

A. Distinção entre uso lógico e psicológico do termo 'conceito' e necessidade de não os confundir. B. O problema da definição: o uso de definições é necessariamente limitado - aquilo que é ontologicamente simples não pode ser definido, apenas pode ser apontado ou elucidado por meio de sugestões e descrições. C. Conceitos e objectos como simples ontológicos; enquanto simples ontológicos distintos uns dos outros, conceitos e objectos são indefiníveis e irredutíveis uns aos outros. D. O problema da identificação dos simples ontológicos: estes não são dados imediatamente à experiência; aquilo que é dado imediatamente à experiência são sempre compostos; é necessário muito trabalho de análise e decomposição dos compostos dados à experiência para se conseguir identificar os simples que os integram. E. As duas teses fundamentais de Frege acerca de conceitos e objectos: i) O conceito tem uma natureza irredutivelmente predicativa; ii) Os objectos são irredutivelmente não predicativos. F. As críticas de Kerry às teses de Frege: i) a distinção entre conceito e objecto não seria ontologicamente irredutível, tendo antes uma validade meramente contextual; ii) o próprio Frege violaria nos seus escritos o princípio da irredutibilidade. G. A resposta de Frege a Kerry: i) Apresentação de um conjunto de contra-exemplos aparentes à segunda das teses de Frege acima mencionadas: nestes contra-exemplos, nomes próprios aparecem à direita da cópula em juízos singulares ocupando o lugar que é aparentemente o do predicado (e.g., 'O dono de Bucéfalo é Alexandre Magno', etc.); ii) Demonstração de que estes contra-exemplos são apenas aparentes: o que, na realidade, os caracteriza é serem frases de identidade, nas quais ou dois termos singulares são feitos cair sob um mesmo predicado binário (x=y), o qual denota um único conceito relacional, ou um dos termos singulares é apenas parte constituinte de um predicado unário sob o qual é feito cair o outro termo singular (e.g., x=4) - um tal predicado unário denota então um conceito sob o qual apenas um único objecto cai; iii). Apresentação de um conjunto de contra-exemplos aparentes à primeira das teses de Frege acima mencionada: nestes contra-exemplos, termos gerais aparecem à esquerda da cópula no lugar que é aparentemente o do sujeito (e.g., 'Os homens são numerosos', etc.) em juízos que têm a aparência externa de juízos gerais universais afirmativos mas que são essencialmente distintos destes, uma vez que neles não se estabelece a inclusão de um dos conceitos no outro; poderia assim fazer sentido interpretá-los como juízos nos quais um dos conceitos (o conceito sujeito) ocuparia no juízo um lugar não predicativo; iv) Demonstração de que estes contra-exemplos são apenas aparentes: o que, na realidade, os caracteriza é serem juízos nos quais se faz cair um conceito de primeira ordem (e.g., ser um homem) sob um conceito de segunda ordem (e.g., ser satisfeito por um grande número de objectos); ora, estes juízos são essencialmente distintos de juízos nos quais se predica um conceito de um objecto.