VI. O Pensamento: uma Investigação Lógica - 1

15 Novembro 2021, 17:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege O Pensamento: uma Investigação Lógica ( Der Gedanke: eine logische Untersuchung) de 1918/19 - 1


1. A Lógica como 'Ciência da Verdade': o propósito da Lógica é descobrir as leis da verdade. 2. Dois sentidos associados ao uso do termo 'lei': sentido prescritivo (moral, direito); sentido descritivo (ciências da natureza); quando se fala em 'leis da verdade' como o objecto da Lógica, o termo 'lei' deve ser aqui entendido no mesmo sentido em que se fala de 'lei', quando se fala de leis da natureza (i.e., estas são leis descritivas). 3. Há, todavia, que distinguir entre as leis da verdade e as leis dos processos de pensamento efectivos; estas últimas são de natureza psicológica e descrevem eventos sujeitos à causalidade natural; aquelas não são de natureza psicológica e não descrevem eventos sujeitos à causalidade natural. 4. Usos do termo 'verdadeiro' que nada têm a ver com a Ciência da Verdade: i) 'verdadeiro' como 'genuíno' ou 'veraz'; ii) 'verdadeiro' como 'próprio' ou 'não adulterado'. 5. O uso do termo 'verdadeiro' que tem a ver com o modo como o mesmo é usado na Ciência da Verdade é o uso típico das ciências naturais; mas que uso é esse? 6. Diferentes interpretações de 'x é verdadeiro' tal como usado nas ciências naturais: i) 'x é verdadeiro' como 'x é uma representação verdadeira'; a noção de 'representação verdadeira' elucidada à custa da noção de 'correspondência' entre representação e representado; análise desta noção - uma representação seria tanto mais verdadeira quanto mais correspondesse ao representado; mas, num caso em que houvesse coincidência perfeita entre representação e representado, o que se obteria não seria uma representação maximamente verdadeira, mas sim a ausência de representação; não havendo coincidência perfeita entre representação e representado, o que se obteria seria apenas uma correspondência parcial; mas a uma correspondência parcial deveria estar associada apenas uma verdade parcial; ora, uma verdade parcial não é uma verdade; a verdade não admite graus; no caso particular da representação mental, esta situar-se-ia num plano ontológico (o do mundo das coisas mentais que existiriam no tempo mas não no espaço) distinto do plano ontológico do representado (o do mundo das coisas físicas, que existiriam no espaço e no tempo); como poderia então uma coisa mental corresponder a uma coisa física? Segundo Frege, o termo 'correspondência' não teria aqui as condições de uso que permitiriam atribuir-lhe um sentido claro; por outro lado, o esforço no sentido da clarificação do mesmo revelaria que o entendimento da noção de verdade como correspondência seria contraditório nos seus próprios termos.