VI. O Pensamento: uma Investigação Lógica - 2

19 Novembro 2021, 14:00 António José Teiga Zilhão

Análise e discussão do ensaio de Gottlob Frege O Pensamento: uma Investigação Lógica Der Gedanke: eine logische Untersuchung) de 1918/19 - 2


7. A respeito de o que é que, de facto, surge a questão da verdade? Frege defende que esta questão só surge a respeito de frases e não de coisas, ideias ou representações; todavia, aquilo que, numa frase, pode ser verdadeiro ou não é, na realidade, o seu sentido, e não a frase propriamente dita; por sua vez, o sentido de uma frase é um pensamento; logo, os pensamentos são aquilo acerca do que a questão da verdade pode colocar-se. 8. Sendo os pensamentos imateriais, a questão da verdade só pode então colocar-se a respeito de entidades imateriais; ser verdadeiro não é, portanto, uma propriedade perceptível ou material. 9. Só as frases nas quais se afirma ou comunica alguma coisa, i.e., em geral, frases indicativas, exprimem pensamentos; mas, numa frase indicativa, há que distinguir entre dois componentes - o conteúdo e a asserção; e só o primeiro contém o pensamento que a frase exprime. 10. Com efeito, é possível exprimir um pensamento sem o colocar como verdadeiro; assim sendo, há que distinguir entre: i) a apreensão ou captura de um pensamento (o processo de pensar), ii) o reconhecimento como verdadeiro de um pensamento apreendido (a formulação do juízo), iii) a manifestação ou comunicação do juízo, i.e., de um pensamento apreendido e tido por verdadeiro (a asserção). 11. Dadas estas distinções, torna-se compreensível por que é que, segundo Frege, a asserção de uma frase indicativa x acompanhada com o qualificativo 'é verdade que x' ou 'x é verdadeira' nada acrescenta à simples asserção da frase; para o autor da elocução, a questão da verdade põe-se antes da formulação do juízo, após a captura de um pensamento, e não depois, no momento da asserção. 12. Na realidade, além do conteúdo e da asserção, muitas frases indicativas contêm ainda outros aspectos como, e.g., o tom, os quais estão associados à expressão da emoção e dos sentimentos dos falantes; estes aspectos são, todavia, irrelevantes para a determinação de qual o pensamento expresso por uma frase; no âmbito de uma investigação lógica eles devem, por isso, ser negligenciados.