Belo e Sublime: Duas experiências estéticas

5 Maio 2020, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

5 de Maio de 2020

(aula não presencial, sem contacto com os alunos, leccionada via Zoom)

 

16 alunos

 

1. Sobre os temas do ensaio.

 

2. Sobre a Época Especial: Dia 5 de Junho – 14h-17h

Uma prova escrita sobre toda a matéria leccionada e constante dos sumários.

Enviarei o enunciado antes das 14h, para o Fénix ou para o mail da turma, ou, se os tiver, para os endereços pessoais.

As respostas deverão chegar até às 17h e 15m para:

adrianaserrao@letras.ulisboa.pt

ou

adrianaserrao@fl.ul.pt

 

Da mensagem do director: “Caros colegas, caros estudantes,

Como sabem, entre 1 e 5 de Junho de 2020 realizam-se os exames da época final de avaliação final alternativa do segundo semestre. Todos os estudantes que nas pautas de avaliação do Fenix, a publicar até 20 de Maio, figurem como “Não Avaliado (NA)” ou com uma nota inferior a 10 valores podem inscrever-se. As inscrições são feitas como de costume no Fenix, entre 25 e 29 de Maio. Excepcionalmente não haverá este semestre limite para o número de exames que cada estudante pode fazer; e não serão cobrados emolumentos. Todos os exames serão não-presenciais. Terão de estar concluídos até às 23:59 do dia 5 de Junho. As classificações serão lançadas até 26 de Junho.

Para estes exames não existirá um formato obrigatório. O formato será decidido pelos docentes, e essa decisão, assim como o dia e hora do exame (ou a data limite para o entregar), serão registados no último sumário da unidade curricular. Caso o exame seja em tempo real, deverá ser marcado no horário atribuído à turma. Elaborámos um guia sobre formatos não-presenciais possíveis que está desde hoje online em https://bit.ly/GuiaExamesJunho2020 .

 Os estudantes com dificuldades em realizar o exame no formato decidido pelo professor devem comunicar-lhe essas dificuldades e consultar o Núcleo de Apoio ao Estudante em nape@letras.ulisboa.pt (caso tenham necessidades educativas especiais) ou a Divisão de Sistemas e Informática em dsi@letras.ulisboa.pt (caso tenham dificuldade em aceder a um computador ou à internet).”

 

 

 Esquema da aula

 

Preâmbulo:

Sublime: de categoria da retórica: elevação, emoção, empolgamento do discurso, persuasão das audiências (ex: Aristóteles; Pseudo Longino, Do Sublime) a categoria estética na Modernidade. O reflexo desta nova forma de ver e fruir é patente na modificação das categorias es­­té­ticas, encontrando‑se o seu eco primeiro na estética inglesa, depois na estética ale­mã. Na filosofia inglesa, Joseph Addison, "The Pleasures of the Imagination" (The Spectator, 1712) será o primeiro a utilizar o termo sublime para de­­­­signar o fascínio da montanha; A. Shaftesbury, (The Moralists), por sua vez, elogia a natureza irregular, im­­­­po­nen­te, e considera‑a preferível à regularidade. A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beau­­­tiful (1757), de Edmund Burke, é o marco relevante ao conceder ao sentimento do sublime o primado sobre o do belo.

 

Kant, Crítica da Faculdade do Juízo, Analítica do Sublime. KU, §§ 23-29, incluindo a “Nota Geral sobre a exposição dos juízos estéticos reflexionantes”.

 

Em Kant, “das Erhabene”, mantém o sentido de elevação, de tensão vertical, desnivelada, mas é inteiramente desligado da afecção por causalidade e reconduzido à dinâmica das operações do ânimo e à inquirição transcendental (não psicológica nem empírica) com validade universal.

 

 – Belo e Sublime: Duas experiências estéticas: semelhanças (desinteressadas, repousam no exercício livre e sem conceitos da faculdade de julgar reflexionante; e diferenças do modo da relação (da co-presença entre sujeito e objecto) (§23). Entre forma (limite, a unidade de um múltiplo) e ausência de forma (ilimitação, totalidade…). O ponto de bifurcação da capacidade de reflectir-sentir emerge deste desajustamento entre o que é limitado, reconhecível e identificável, e o destituído de forma, in-forme (formlos), por excessivo e inapreensível.

Daqui, a diferença dos sentimentos: prazer (assente na harmonia, na finalidade, entre imaginação e entendimento) face a formas sensíveis; e “prazer negativo” (assente na desarmonia, na “contra-finalidade”, que implica a intervenção da razão); ao mesmo tempo, introduz-se a intensidade do elemento emocional (repulsão/atracção).

A dupla orientação da estética kantiana em belo e sublime assenta na diferença entre duas dinâmicas anímicas. Numa, a harmonia da imaginação e do entendimento acompanhada do sentimento de prazer persiste durante todo o tempo da contemplação, proporcionando o equilíbrio e a pacificação; na outra, o esforço da imaginação para apreender na unidade de uma intuição, a ilimitação e excessividade, esforço esse, que votado ao fracasso, produz um conflito entre atracção e repulsão pelo objecto, que coloca o sujeito na ins­ta­bilidade entre contracção e ex­pansão das suas forças vitais.

 

 – O sentimento do sublime ocorre exclusivamente frente à natureza. Suscitado por manifestações de grandeza ilimitada ou de potência desmedida da natureza selvagem, destituída "de encantos e de perigos" (KU, §26), a vivência do su­blime tem, por sua vez, início numa des­con­for­­midade entre as operações da sen­si­bi­lidade e o mundo fenoménico, que anula qualquer expectativa de prazer.

 

 – Duas modalidades do informe/excedência, símbolos do infinito, da ideia de infinitude. - o sublime da quantidade (matemático): grandeza (excessiva): o absolutamente- grande; §§25-27. - o sublime da força (dinâmico), potência, dinamismo: o absolutamente-potente. §§28-29.

 

 – A dinâmica das faculdades: o carácter misto e impuro

- a) o esforço e a derrota da (dos esquemas) imaginação: o sentimento de desprazer. Esforço esse, por fim fracassado como sentimento negativo: quer de ina­de­quação entre "o medir de olhos" (Augenmaß) do pequeno em face do imensamente grande; quer do medir de forças do impotente que ten­ta resistir a um poder maior. A experiência do sublime reousa, respectivamente, nos esquemas ma­te­máticos da avaliação da grandeza e nos es­que­mas dinâmicos.

 

- b) A razão intervém para preencher o vazio de es­que­mas com ideias e esclarecer o verdadeiro sen­­­tido do desprazer (Unlust). Seja na inadequação entre grandezas: Não se deve chamar sublime à grandeza, mas ao "que é ab­so­luta­men­­te grande"; seja na tensão entre força, podere resistência: não se deve chamar sublime à força a que ainda oferecemos resistência, mas à "força (Macht) que não tem po­der (Ge­walt) sobre nós" (§25, §28).

 

- c) A intervenção do pensamento do infinito. O infinito, que é para a razão teórica, uma ideia irrepresentável fenomenicamente, torna-se apresentável na natureza face a nós, como “infinito visível”, presença do supra-sensível no mundo sensível.

 

- d) O sentimento de superioridade sobre o que nos pode esmagar. O sentimento estético desperta o sentimento moral. Aqui, a estética abre a passagem ao incondicionado da razão prática, à inviolabilidade da consciência moral e ao domínio da liberdade.

 

- e) Sublime (estético) e antropologia: a dupla natureza, sensível (finita) e moral (infinita) do ser humano.

 

"o sublime da natureza é uma expressão imprópria e [...] só deve ser atri­buí­do com propriedade à maneira de pensar, ou melhor, ao seu fun­da­mento na natureza humana." §30

 

 

– Os infinitos kantianos: “O céu estrelado (acima e fora de mim) e a lei moral (em mim)”.

 

 

Leituras recomendadas

Hugo Assis, “O sublime de Kant. Um estarrecimento perante o inefável”, Philosophica 50.

Cristina Beckert, “A estética do invisível na natureza”, Philosophica 29 (2007).

Ana Anahory, “Leituras do Sublime: Derrida, Lyotard, Philosophica 19/20 (2002)

Raoul Marian, “A descoberta do númeno? Um paradoxo na Estética kantiana”, Philosophica 48.