PLATÃO: Uma teoria da arte e uma metafísica do Belo

4 Fevereiro 2020, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

4 de Fevereiro

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A pergunta socrática: O que é o belo?

Análise das respostas em Hípias Maior

1. uma bela donzela / um particular / comparativo

2. o ouro: o que faz parecer / parecer # ser

3. a conveniência / relativo a qualquer coisa/ não é em si.

4. a utilidade / conformidade a um fim/ não é em si.

5. o vantajoso / belo como causa do bem / identificação entre belo e bem.

6. causa prazer vista e do ouvido/ agradável aos dois sentidos

7. um belo discurso.

 

 

Recomendação: Roberto Rossellini, Socrate

https://www.youtube.com/watch?v=qixfEOavcqE

 

 

 

PLATÃO:

Uma teoria da arte e uma metafísica do Belo

 

1. O conceito platónico de arte (technè).

Um conhecimento aplicado, saber fazer, um fazer orientado por um saber. Distingue-se da epistèmè, saber teorético, puro, contemplativo, conhecimento intelectual das essências.

Uma competência, capacidade comum a todos que possuem uma determinada technè, mas não capacidade individual: ex: tecelagem, marcenaria, governação, pilotagem, política ….

A interpretação da teoria platónica da arte tem de ser integrada nesta significação (=técnica, actividade baseada em conhecimentos e correctamente orientada para um fim), distinta da concepção moderna das belas-artes e da moderna acepção do artista-criador.. Possui regras gerais; pode ser aprendida e ensinada.

 

… porque se a justa medida existe, as technai também existem, e se as artes existem, a medida existe também, mas se uma delas não existir, então não existirá nenhuma delas (Político 284c).

Com efeito, todos os produtos da technè participam de uma maneira qualquer da medida” (Político 284 e).

 

 São poesia, pintura, escultura technai ?

2. A concepção platónica da mimèsis.

República III (393 c ss) e X (595 c e ss).

Sofista 219 a- 221 c; 232 b-235 c; 264 c.

Questão: São poesia, pintura, escultura technai? Possuem um modelo? Possuem logos?

2.1. No livro III da República (República III (393 c ss): análise dos modos do discurso poético:

  • diegesis (diegese) - “o poeta fala em seu nome e não procura fazer-nos crer que é um outro diferente dele que fala” / “ele introduz, quer os diversos discursos pronunciados, quer os acontecimentos intercalados entre os discursos”

  • mimèsis (mimese) – “esforça-se por nos dar a ilusão de que não é Homero que fala, mas sim o ancião, sacerdote de Apolo” / “quando ele pronuncia um discurso sob o nome de um outro, ele procura adequar a sua linguagem à de cada personagem à qual vai conceder a palavra”

  • Modos:

  • Diegético – narrativo (narrativa do poeta, o ditirambo)

  • Mimético – imitativo (tragédia e comédia)

  • Misto: epopeia

 

Condenação da poesia mimética:

“porque lhe são necessárias todas as harmonias, todos os ritmos, a fim de encontrar uma expressão apropriada, visto que ela comporta variações de toda a espécie”

Conceito positivo de imitação: a identificação do bom modelo

“vamos admitir no nosso Estado os dois géneros? Vamos ficar apenas com a narrativa simples que imita a virtude”; “a excelência do discurso, da graça e do ritmo provêm da simplicidade da alma […] dessa simplicidade verdadeira de um carácter onde se aliam a verdade e a beleza”