A concepção platónica da mimèsis.

19 Fevereiro 2019, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão



 A concepção platónica da mimèsis.

República III  (392a ss) e X (595 c e ss).

Sofista 219 a- 221 c; 232 b-235 c; 264 c.

 

Questão: São poesia, pintura, escultura technai? Possuem um modelo? Possuem logos?

2.1. No livro III da República (República III (392 a ss): análise dos modos do discurso poético:

·         diegesis (diegese) - “o poeta fala em seu nome e não procura fazer-nos crer que é um outro diferente dele que fala” /“ele introduz, quer os diversos discursos pronunciados, quer os acontecimentos intercalados entre os discursos”

·         mimèsis  (mimese) – “esforça-se por nos dar a ilusão de que não é Homero que fala, mas sim o ancião, sacerdote de Apolo” / “quando ele pronuncia um discurso sob o nome de um outro, ele procura adequar a sua linguagem à de cada personagem à qual vai conceder a palavra”

·         Modos:

·         Diegético – narrativo (narrativa do poeta, o ditirambo)

·         Mimético – imitativo (tragédia e comédia)

·         Misto: epopeia

 

Condenação da poesia mimética:

“porque lhe são necessárias todas as harmonias, todos os ritmos, a fim de encontrar uma expressão apropriada, visto que ela comporta variações de toda a espécie”

 

 

“vamos admitir no nosso Estado os dois géneros? Vamos ficar apenas com a narrativa simples que imita a virtude”; “a excelência do discurso, da graça e do ritmo provêm da simplicidade da alma […] dessa simplicidade verdadeira de um carácter onde se aliam a verdade e a beleza”

398 a

 

 

 

 

Continuação do tema em República X

A hierarquia das technai

segundo o duplo critério da mimèsis  o bom modelo e a boa imitação.

 

 

 

No livro X (República 595 c e ss): Exemplificação dos graus do ser

 

Ideia (inteligível, una)

“no que diz respeito à Ideia não existe nenhum artífice que a possa executar”

 

Entes sensíveis

múltiplos, particulares, mas referidos ao modelo, como produções múltiplas (da unidade).

O artesão “fixa os seus olhos na Ideia para fazer, a partir dela, as camas, as mesas e os objectos de que nos servimos” (technè)

 

 

Imagens (eidolon, pl: eidola)

Coisas aparentes (phainomena) mas sem qualquer verdade (aletheia)

“este mesmo artesão não tem apenas o talento de fazer todos os móveis,

mas ainda todas as plantas e modela todos os seres vivos e a si mesmo; faz a terra, o céu, os deuses, tudo o que existe no céu e tudo o que existe na terra…”

 

 

Pergunta:

“imita as coisas como são ou como parecem? (598a)

- alteração do ângulo de visão, multiplicação das perspectivas, diferenças de estilo, produção de irrealidades (phantasma/ pl: phantasmata)

“os poetas só criam phantasmata e não entes (ta onta)”

 

 

 

“Mas vê agora que nome dás ao artesão que te vou dizer […], que faz todas as coisas que os diversos artesãos fazem cada um no seu género”.

 

Analogia com o espelho: Pintor

 

 

 

 Ser (inteligível)

·         Aparecer (sensível)

·         Parecer – sombras / imagem

 

 

 

Agravamento do parecer:

O primado da filosofia (pensamento) sobre a poesia e pintura (produções de imagem)

Livro III: critério pedagógico e moral; critério político

Livro X: fundamentação ontológica