Sumários
FENOMENOLOGIA E ONTOLOGIA DA EXPRESSÃO ARTÍSTICA.
7 Maio 2019, 14:00 • Adriana Veríssimo Serrão
MERLEAU-PONTY E PAUL KLEE: FENOMENOLOGIA E ONTOLOGIA DA EXPRESSÃO ARTÍSTICA.
A ARTE COMO VISÃO EXEMPLAR E LINGUAGEM ORIGINÁRIA.
- Maurice Merleau-Ponty, O Olho e o Espírito, Lisboa, Vega, 2015; L’Oeil et l’Esprit, Paris, Gallimard, 1964.
- Paul Klee, Escritos sobre arte, Teoria da Arte Moderna,1964 (anos 20 ss do século XX)
1. Conceito de fenomenologia: Kant, Hegel, Georg Simmel; a escola fenomenológica: Edmund Husserl: descrição de processos da consciência.
- Merleau-Ponty: recolocar o pensamento no ser: fenomenologia e ontologia.
- Estrutura de O Olho e o Espírito/ L’Oeil et l’Esprit.
I. Crítica da ciência /do cientismo/.
II.A pintura como via privilegiada de acesso ao ser do mundo.
III. A mecanização da visão: a Dióptrica de Descartes. A planificação do mundo na perspectiva artificialis.
IV. A reivindicação de autonomia pela pintura moderna: a profundidade do mundo; Cézanne, Rodin, Matisse, Klee, Giacometti…
V. Pintura como decifração do visível/invisível do mundo: um processo infinito.
2. Recuperação da consciência natural e recuperação do ser do mundo.
-- “A ciência manipula as coisas e renuncia a habitá-las.” (OE, I, pp. 9 da trad. fr.)
Crítica da ciência (a filosofia das ciências actual), da técnica e do cientismo:
- um pensamento construtivo e operatório;
- absolutização do conhecimento;
- ideologia cibernética: criações humanas segundo o modelo das máquinas de informação.
- Crítica do historicismo: redução do presente ao passado.
- Crítica da cultura erudita: suspensão das mediações e das conceptualizações.
2. O imediato e pré-reflexivo na experiência do mundo.
- Recolocar o pensamento no ser: ontologia e tomar a experiência do mundo como experiência do (meu) corpo no mundo.
- Mundo não é um objecto à nossa frente: o “há (il y a), “o solo do mundo sensível e do mundo operado”, “tal como são na nossa vida, para o nosso corpo… esse corpo actual que chamo meu, a sentinela que se mantém silenciosamente sob as minhas palavras e sob os meus actos.” (12-13)
Noção de fenómeno: aparecer do ser, superação das antinomias e dualismos
Busca do originário / Descrição de experiências vividas / de encontro e enraizamento no ser.
3. A reversibilidade de corpo e mundo.
- Para além do conhecimento e da acção: “… a arte e nomeadamente a pintura sondam nessa toalha de sentido bruto de que o activismo nada quer saber. São mesmo as únicas a fazê-lo com inteira inocência. … O pintor é o único a ter direito de olhar para todas as coisas sem nenhum dever de apreciação. (p.14)
- “É emprestando o seu corpo ao mundo que o pintor muda o mundo em pintura” (p.16).
- Contra o mundo-quadro à distância: a reversibilidade: o avesso/direito / de visível e invisível/ do ser
- O corpo como vidente/visível.
“Imerso no mundo pelo seu corpo, ele mesmo visível, o vidente não apropria a si aquilo que vê: apenas se aproxima dele pelo olhar, abre sobre o mundo. E, por sua vez, este mundo, de que ele faz parte, não é em si ou matéria. … É o seguimento natural e a maturação da visão…. (18)
O enigma consiste nisto, em ser vidente e visível. Ele que olha todas as coisas, pode também olhar-se, e reconhecer então naquilo que vê o “outro lado” da sua potência vidente. Ele vê-se vendo, toca-se tocando, é visível e sensível para si-mesmo.” (18).
4. A Pintura como visão exemplar
Cézanne: “a natureza está no interior” (22)
“Qualidade, luz, cor, profundidade, que estão lá à nossa frente, só lá estão porque despertam um eco no nosso corpo, porque ele as acolhe.”
A pintura não é imagem (duplo ou representação): “o olho vê o mundo e o que falta ao mundo para ser ele-mesmo…” (24).
“… o pintor, enquanto está a pintar, pratica uma teoria mágica da visão”
“É a montanha ela mesma que, de lá, se faz ver pelo pintor, é ela que ele interroga com o olhar.” (28).
“A visão do pintor é um nascimento contínuo.” “Este olhar pré-humano é o emblema do pintor.” (32).
- A visão é pensamento (41).
- Tensão entre a bidimensionalidade do quadro e a terceira dimensão (a profundidade) (45).
Cézanne “pensa em pintura” (60).
5. A reivindicação de autonomia pela pintura moderna: a profundidade do mundo; Cézanne, Rodin, Matisse, Klee, Giacometti, Van Gogh
Não ilusionista nem mimética, a arte moderna adquire significado metafísico. Sondar e revelar o enigma do mundo (61 e ss.)
Tal como, segundo Apollinaire, as frases num poema não parecem ter sido criadas, parecem ter-se formado.” (69)
O princípio da génese do visível: Tal como, segundo Klee, a arte não imita o visível, ela ‘torna visível’ (74).
“A visão é o encontro, como num cruzamento, de todos os aspectos do ser.” (86).
Paul Klee, Escritos sobre arte, Teoria da Arte Moderna,1964. (anos 20 ss do século XX).
Citações referem-se à edição francesa Théorie de l’art moderne, Paris, Denoël, 1985.
Pädagogisches Skizzenbuch (Esboços Pedagógicos) (1925).
Das bildnerische Denken (O pensamento formativo), 1956 (póstumo).
Avaliação
A avaliação será cumulativa, dependendo a classificação do nível de conhecimentos atingido. Todos os elementos serão objecto de preparação e discussão com o docente em horas de acompanhamento.
A classificação final é ponderada em função das classificações obtidas nos seguintes elementos obrigatórios:
1. Uma prova escrita, a realizar na última aula de Março (26).
2. Uma prova oral sobre os tópicos e as leituras obrigatórias do programa. Para esta prova, os alunos deverão elaborar um ensaio escrito de extensão não superior a 5 pp. sobre uma das questões discriminadas no programa.
Na classificação final serão tidos em conta o acompanhamento da matéria e a participação activa nas aulas.
Critérios de classificação: nível de conhecimentos, organização formal dos textos, clareza e correcção da expressão escrita e oral, maturidade de pensamento e espírito crítico.
PROVA ORAL
NO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA (2.º andar)
Dias 13 e 14 de Maio (horário a preencher em folha anexa). OS ALUNOS QUE O NÃO FIZERAM NA AULA DEVERÃO INSCREVER-SE NO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA.
OS ALUNOS DEVERÃO TRAZER PARA A ORAL O TRABALHO JÁ CLASSIFICADO E O ENSAIO TEMÁTICO.
Hegel: a historicidade da arte.
30 Abril 2019, 14:00 • Adriana Veríssimo Serrão
Hegel: a historicidade da arte. A arte como manifestação sensível do absoluto. O primado da beleza artística. Linguagem poética e pensar filosófico.
Hegel, Vorlesungen über die Ästhetik / Lições de Estética (Berlin 1820-1829); Estética: texto de trabalho: Introdução, trad. port., Lisboa: Guimarães, 1952-1964.
*I. A concepção objectiva da Arte
-- A Estética como filosofia da Arte ou Ciência do Belo artístico com exclusão do belo natural (pp.2-3).
“Só o espiritual é verdadeiro”: o belo como criação do espírito (superioridade do belo artístico em relação ao natural). A arte como uma manifestação do espírito (p. 5)
O ponto de partida da Estética / refutação dos argumentos contra uma Ciência da Arte
a) a ideia de Belo (Platão: começar pela ideia, e não pelo múltiplo) (pp.6-9)
b) possibilidade de uma ciência da arte: a essência do espírito é o pensamento (9 ss).
c) arte não é aparência mas manifestação (11 ss)
“A arte como manifestação (sensível) do absoluto.”
Arte (sensibilidade) – Religião (intuição e sentimento) – Filosofia (conceito)
Arte e religião não se compreendem a si mesmas: o ponto de vista da Filosofia.
Enciclopédia do Saber Absoluto: Filosofia da Arte, Filosofia da Religião, e Filosofia da Filosofia.
*II Ideias correntes sobre a natureza da Arte (imitação da natureza; despertar da alma; função moralizadora).
*Plano Geral da Obra (final da Introdução)
- Arte: a) unidade de conteúdo (ideia) numa forma (sensível);
b) conteúdo concreto;
c) figura sensível individual.
- Historicidade da Arte ou do Espírito na Arte: processo da consciência de si do Absoluto.
Lógica imanente à historicidade artística: a arte busca o seu ideal.
“Uma obra de arte é tanto mais perfeita quanto o seu conteúdo e a sua ideia correspondem a uma verdade mais profunda.” p. 145 da trad. fr.
A tensão entre conteúdo (espiritual) e forma (sensível)
O movimento dialéctico: afirmação/ negação/ negação da negação.
O Espírito na História: as grandes épocas
Épocas |
ORIENTAL |
CLÁSSICA |
ROMÂNTICA |
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Arte simbólica |
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Religião (natural) |
Filosofia grega |
Cristianismo |
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Género artístico predominante |
Arquitectura |
Escultura |
Pintura Música Poesia |
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Desmesura do conteúdo sobre a forma sensível |
Adequação perfeita entre conteúdo e forma |
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Sublime (informe) Os colossos matérico |
Realização máxima da beleza na figura humana
A morte da arte |
Nenhuma forma sensível é adequada ao conteúdo religioso Infinitude Experiência da interioridade |
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Da palavra ao Conceito Linguagem poética e pensar filosófico. |
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Filosofia especulativa |
A morte da Arte
“As estátuas são agora cadáveres que a sua alma viva abandonou; os hinos tornaram-se palavras dos quais a fé se retirou. A mesa dos deuses está agora sem alimento espiritual nem bebida, e depois de jogos e festas a consciência já não encontra a experiência feliz da sua unidade com a própria essência … Assim, quando o destino nos oferece estas obras não nos dá o seu mundo, a primavera da vida cultural que as viu florir, o verão que as viu amadurecer, mas tão-só a lembrança velada da sua realidade.
Quando as apreciamos … trata-se de uma actividade que permanece totalmente exterior … ela não acede à interioridade da realidade cultural que produziu as obras e que lhes insuflou espírito; ela monta uma construção complicada a partir de elementos mortos da sua existência exterior, da sua língua, da sua história, etc. Nós não vivemos nelas, apenas as representamos em nós.”
Hegel, Fenomenologia do Espírito, ed. Hoffmeister, p. 523.
Estética, pp. 16-17 da trad. fr.
A Analítica do Sublime
23 Abril 2019, 14:00 • Adriana Veríssimo Serrão
A Analítica do Sublime
Belo e Sublime: Duas experiências estéticas:
Semelhanças e diferenças do modo da relação entre sujeito e objecto §23
Duas modalidades do in-forme/excedência
- grandeza (excessiva): o absolutamente- grande;
- força, potência, dinamismo: o absolutamente-potente.
O ponto de bifurcação da capacidade de sentir emerge neste desajustamento entre limite, reconhecível e identificável, e ausência de forma, por excessiva e inapreeensível.
A dinâmica das faculdades
- a) o esforço e a derrota da imaginação: o sentimento de desprazer.
b) a intervenção do pensamento do infinito: sentimento estético e sentimento moral.
A razão intervém para preencher o vazio de esquemas com ideias e esclarecer o verdadeiro sentido do desprazer (Unlust).
Alex Honnold- montanhista sem segurança…
João Garcia …
Não se deve chamar sublime à grandeza, mas ao "que é absolutamente grande";
não se deve chamar sublime à força a que ainda oferecemos resistência, mas à "força (Macht) que não tem poder (Gewalt) sobre nós" (§25, §28),
"o sublime da natureza é uma expressão imprópria e [...] só deve ser atribuído com propriedade à maneira de pensar, ou melhor, ao seu fundamento na natureza humana." §30
A dupla orientação da estética kantiana em belo e sublime assenta na diferença entre duas dinâmicas anímicas. Numa, a harmonia da imaginação e do entendimento acompanhada do sentimento de prazer persiste durante todo o tempo da contemplação, proporcionando o equilíbrio e a pacificação; na outra, o esforço da imaginação para apreender, na unidade de uma intuição, a ilimitação e excessividade, esforço esse, que votado ao fracasso, produz um conflito entre atracção e repulsão pelo objecto, que coloca o sujeito na instabilidade entre contracção e expansão das suas forças vitais.