A Analítica do Sublime

16 Maio 2016, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão


 

Belo e Sublime: Duas experiências estéticas:

Semelhanças e diferenças do modo da relação entre sujeito e objecto §23

 Suscitado por manifestações da grandeza ilimitada ou da potência desmedida da natureza selvagem (não humanizada), destituída porém "de encantos e de perigos"(§26)a vivência do su­blime tem início numa des­con­for­­midade, entre a re­cep­ti­vidade da sen­si­bi­lidade e o mundo fenoménico, que anula qualquer expectativa de prazer.

Duas modalidades do informe/excedência

- grandeza (excessiva): o absolutamente- grande;

- força, potência, dinamismo: o absolutamente-potente.

 A dinâmica das faculdades

- a) o esforço e a derrota da imaginação: o sentimento de desprazer.

b) a intervenção do pensamento do infinito: sentimento estético e sentimento moral

A razão intervém para preencher o vazio de es­que­mas com ideias e esclarecer o verdadeiro sen­­­tido do desprazer (Unlust).

"o sublime da natureza é uma expressão imprópria e [...] só deve ser atri­buí­do com propriedade à maneira de pensar, ou melhor, ao seu fun­da­mento na natureza humana." §30

 Na orientação estético-intelectual, a satisfação provém da ampliação da ima­ginação que se engrandeceu num esforço quase criador – "não se trata de uma satisfação relativa ao objecto [..], mas de uma satisfação relativa ao alargamento da imaginação em si mesma" §25.

 Na orientação estético-moral, a falência da imaginação é avaliada também po­sitivamente, mas já do ponto de vista inteligível, como a capacidade de resistência da natureza humana quando confrontada com um poder maior.

O sentido próprio do sublime desvenda-se na incomensurabilidade entre a moralidade em nós e a na­tureza em nós:

“Assim, a su­blimi­dade não está contida em nenhuma coisa da natureza, mas apenas no nosso ânimo, na medida em que podemos tornar‑nos conscientes de sermos superiores à na­tureza em nós, e daí, à na­tureza fora de nós, desde que ela exerça a sua acção sobre nós.” §28

 

 A antropologia da/ na Estética.

A dupla orientação da estética kantiana em belo e sublime assenta na diferença entre duas dinâmicas anímicas. Numa, a harmonia da imaginação e do entendimento acompanhada do sentimento de prazer persiste durante todo o tempo da contemplação, proporcionando o equilíbrio e a pacificação; na outra, o esforço da imaginação para apreender, na unidade de uma intuição, a ilimitação e excessividade, esforço esse, que votado ao fracasso, produz um conflito entre atracção e repulsão pelo objecto, que coloca o sujeito na ins­ta­bilidade entre contracção e ex­pansão das suas forças vitais.

A duplicidade de beleza e sublimidade deve ser perspectivada também pelo tipo de manifestação natural em causa. Se não ela a causar mecanicamente o prazer, não deixa de despertar a admiração em virtude das qualidades próprias. Toda a análise de Kant – seja na descrição fenomenológica, seja como fundamentação transcendental – mostra como não seria possível comutar os modos do objecto e os tipos de sentimento, subjazendo, num caso, a expressão positiva da finalidade, no outro, uma resistência à natureza sentida como contrária à finalidade (zweckwidrig) §23.