I. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA

21 Fevereiro 2018, 14:00 Adriana Veríssimo Serrão

ESTÉTICA – 2017-2018

Prof.ª Adriana Veríssimo Serrão adrianaserrao@fl.ul.pt

adrianaserrao@letras.ulisboa.pt

 

 

 

 

 

I. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Multiplicidade de acepções e usos correntes do termo.

Uso como substantivo:

  • - uma disciplina, um campo doutrinário, um conjunto de questões com unidade temática (“a Estética”) , ou definindo um discurso coerente sobre um sector específico do real, uma disciplina da Filosofia distinta das restantes pelo objecto teórico (“a Estética de Kant”).
  • - um sistema de valores, um estilo, correntes ou gosto de uma época (pertencente sobretudo ao vocabulário da história e da crítica da arte, e da teoria e crítica literária (“a estética clássica, a estética do Barroco, do Modernismo…..).
  • - a beleza, a harmonia, o equilíbrio, perfeição de um objecto, em consonância com um determinado ideal, uma norma, um paradigma: “a estética de um edifício, de uma cidade, de um conjunto, de um rosto… “.

 

Uso como adjectivo: “estético”:

  • - como modo de ser: qualidades/ modos de ser de um objecto, de um ente, de uma situação: propriedades objectivas do objecto --- uso objectivista.
  • - como modo de ver, apreender, sentir, gosto: modalidade como o sujeito capta (esteticamente) o objecto --- uso subjectivista.

 

O campo teórico da Estética.

A ambiguidade fundamental: sentido estrito e o sentido amplo.

Em sentido amplo: conjunto de doutrinas que reflectem sobre a Beleza, a Arte, a experiência (estética) do sujeito e a criação artística.

Em sentido estrito: doutrina da sensibilidade.

 

 

A invenção da Estética como disciplina independente:

Alexander Gottlieb Baumgarten, Aesthetica, 1750 (da escola Leibniz-Wolff)

Advento da sensibilidade na demarcação com o pensamento lógico. Reconhecimento de uma lógica da sensibilidade. Origem duplamente iluminista e grega. Recupera o sentido grego do aisthetikos (do radical aisthèsis, sensação) e testemunha a íntima relação do universo estético com a esfera da sensibilidade humana, por demarcação do universo intelectual.

 

§ 1. A ESTÉTICA (teoria das artes liberais, gnoseologia inferior, arte do pensar belamente, arte do análogo da razão) é a ciência do conhecimento sensitivo).

 

§ 1. AESTHETICA (theoria liberalium artium, gnoseologia inferior, ars pulcre cogitandi, ars analogi rationis) est scientia cognitionis sensitivae).

Trad. port. Ana Rita Ferreira, “Prolegómenos” da Estética de Baumgarten”, Philosophica, 44 (2014).

 

 

 

A Aesthetica não é só a primeira obra com este título, mas igualmente a primeira a justificar o objecto e o estatuto autónomo de uma disciplina que orienta as operações da nossa sensibilidade (facultas cognoscitiva inferior), distinta da Lógica, que orienta as operações da inteligência (facultas cognoscitiva superior).

A facultas cognoscitiva inferior fornece um conhecimento sensível (cognitio sensitiva), claro, mas confuso, isto é, que permite reconhecer o objecto mas sem poder discriminar e enunciar as propriedades constitutivas. É um analogon da razão.

O conhecimento sensível perfeito: unidade do conteúdo, da ordem dos elementos e da sua expressão.

O objectivo da Estética é o de conhecer e produzir a beleza.

Teoria das artes liberais, das belas-artes.

Arte do pensar com beleza:

§ 14. O fim da Estética é a perfeição do conhecimento sensitivo enquanto tal. Ora este fim é a beleza.

 

§ 14. Aesthetices fines est perfectio cognitionis sensitivae, qua talis. Haec autem est pulcritudo.

 

 

 

II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA

Objectivos:

Enquanto disciplina obrigatória da licenciatura em Filosofia, mas frequentada também por alunos de outras licenciaturas (Estudos Gerais, Línguas,  Literaturas e Culturas,  Artes e Humanidades, o programa oferece uma visão panorâmica dos principais problemas, correntes e orientações da Estética.

Tendo em conta o nível dos alunos, optou-se por um programa que incide em autores clássicos, estudados em textos fundadores de todo o pensamento estético. A diversidade dos modelos propostos cobre também o arco temporal da Antiguidade até à actualidade.

Esta diversidade justifica que a Estética não tenha um objecto teórico preciso e que o termo “estético” seja um aglutinador de orientações muitas vezes contraditórias, ora designando qualidades intrínsecas dos objectos, ora os modos pelos quais o sujeito apreende e sente o mundo circundante.

No final do curso, os alunos estarão habilitados a identificar problemas, a usar correctamente conceitos operatórios e a analisar crítica e comparativamente as diferentes teorias estudadas.

 

Conteúdos:

Esta unidade curricular, disciplina obrigatória do 1.º ano da licenciatura em Filosofia, oferece uma visão ampla dos grandes problemas da Estética Filosófica.

Tendo por base o estudo de doutrinas e obras fun­­­damentais, apresenta a evolução da concepção de Estética e a diversidade dos seus principais modelos:

a metafísica do Belo (to kalon): calologia teoria da beleza;

a poética da obra singular;

a experiência sensível e sentimental do mundo;

a filosofia da história do belo na arte;

a fenomenologia da expressão artística.

 

Tópicos do Programa:

Introdução. O lugar da Estética no âmbito do saber filosófico. Multiplicidade de acepções e usos correntes do termo. O campo teórico da Estética. A invenção da Estética como disciplina independente.

1. Platão: o belo como ideia. A desvalorização do plano da aisthèsis. A dinâmica erótica no ca­minho do "ho­mem" até à alma. A ideia‑arquétipo como modelo  da imitação e critério da judicação.

2. Aristóteles: a poética da obra singular. Analogia entre a obra (tragédia)  e o ser vivo. O princípio estético da verosimilhança. A catarsis: o apelo ao efeito no espectador.

 3. Kant: a autonomia da experiência estética. Gosto e sen­timento. Re­ciprocidade da contemplação e da cria­ção. A tensão imaginação-razão na génese do sublime. Ideia estética e intuição criadora.

4. Hegel: a historicidade da arte. A ar­te como manifestação sensível do absoluto. O primado da beleza artística. Linguagem poética e pen­sar filo­sófico.

5. Merleau-Ponty e Paul Klee: fenomenologia e ontologia da expressão artística. A ar­te como visão exemplar e linguagem originária.

 

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Bibliografia Primária / Plano de Leituras Obrigatórias

Consta dos seguintes textos fundamentais (com os títulos em português)

Platão, Hípias Maior, República, livros III, X; Sofista (excerto), Banquete.

Aristóteles, Poética.

Kant, Crítica da Faculdade do Juízo (Analítica do Belo e Analítica do Sublime).

Hegel, Estética (Introdução, O ideal do belo).

Merleau-Ponty, O Olho e o Espírito / L’Oeil et l’Esprit

Paul Klee, Teoria da Arte Moderna.

 

A Bibliografia Secundária acompanha os diversos pontos da matéria e inclui Estudos e Obras Instrumentais: Histórias da Filosofia, Histórias da Estética e Manuais de Estética e Filosofia da Arte.

 

Avaliação

A avaliação será cumulativa, dependendo a classificação do nível de conhecimentos atingido. Todos os elementos serão objecto de preparação e discussão com o docente em horas de acompanhamento.

Segunda-feira: 15h-17h Dep. Filosofia

A classificação final é ponderada em função das classificações obtidas nos seguintes elementos obrigatórios: 

1. Uma prova escrita, a realizar na 1ª aula a seguir às férias da Páscoa.  4 de Abril.

2. Uma prova oral sobre os tópicos e as leituras obrigatórias do programa.

Cumulativamente, os alunos poderão apresentar um ensaio escrito de extensão não superior a 5 pp. sobre uma das questões discriminadas no programa.

Na classificação final serão tidos em conta o acompanhamento da matéria e a participação activa nas aulas.

Critérios de classificação: nível de conhecimentos, organização formal dos textos, clareza e correcção da expressão escrita e oral, maturidade de pensamento e espírito crítico.



Próxima Aula:

A pergunta socrática: O que é o belo?

Análise das respostas em Hípias Maior